Fim de ano é tempo de propósitos e planos. Tem o fulano que
decide parar de fumar. Já o sicrano jura que vai largar sua vida sedentária e
incorporar nos seus hábitos uma caminhada diária. O beltrano garante que vai
parar de comprar no cartão de crédito. Este afirma com certeza que não vai
faltar à missa nos domingos. Já aquele promete que trabalhará um pouco menos
para passar mais tempo com os filhos. Cada um com seu propósito. Geralmente
muito delimitado e, em princípio, exequível, de curto prazo e mensurável.
Quantos conseguirão? A experiência diz que muito poucas pessoas conseguem, de
fato, realizar seus propósitos de final de ano... E não é de estranhar. É da
própria natureza do propósito que se fundamenta mais na emoção que na razão.
Provavelmente os mesmos propósitos serão refeitos no próximo final de ano para
não serem executados outra vez.
E há os que fazem planos. Estes pensam a mais longo prazo e
se perguntam: o que quero para o final do próximo ano? Onde e como quero estar?
Elaborar planos é uma tarefa mais lenta e mais difícil e que vai para além de
um final de ano. E mais: os resultados de um plano são, no imediato, menos
delimitáveis e tangíveis. Fazer um plano implica em mais trabalho. Estabelecer
uma meta, estratégias, atividades, recursos... Muito mais difícil. Por isso
menos gente faz planos. Mas, sem que isso seja contraditório,
proporcionalmente, quem faz planos tem mais possibilidade de êxito do que quem
faz propósitos. O planejador é menos emocional, menos volúvel e mais
persistente.
Mas existe um passo que vai além de propósitos e planos.
Existem os projetos. E estes ultrapassam a dimensão dos propósitos e dos
planos. Um projeto sempre é de longo prazo. Ultrapassa os limites do calendário
anual e implica uma decisão de vida. Não se pergunta por onde e como quero
estar no final do próximo ano. O projeto exige pensar onde e como quero estar
no final desta vida. Ele exige a combinação de diferentes planos convergentes
com o fim estabelecido.
Claro: a execução de um projeto implica na elaboração
de planos com a sua racionalidade que
por sua vez começa sua implementação com um propósito que só se realiza com a
emocionalidade. Um não descarta o outro. Pelo contrário. Exige uma combinação.
Comecei a rabiscar estas reflexões a partir de duas
situações que me preocupam. A primeira é a que me ponho como cidadão
brasileiro. Depois do 2017 que tivemos e das falas de final de ano das
autoridades – executivas, legislativas e judiciárias – tanto no nível federal,
como estadual e municipal, a pergunta que me vem é: qual é o projeto que rege
os planos e propósitos para o próximo ano? Enquanto cidadãos desta terra brasilis, teremos, no próximo ano,
que viver de propósitos ou é possível ter planos e projetos?
A outra preocupação é a que me ponho como cristão, membro da
Igreja Católica Romana e profissional do ensino teológico. Depois de um 2017 em
que a oposição ao Papa Francisco apareceu de forma articulada e agressiva, é
possível sonhar com um projeto de uma “Igreja em saída” para as periferias
sociais e existenciais ou teremos que nos contentar com planos e propósitos de
curto prazo? Acontecerá com a primavera do Papa Francisco o mesmo que aconteceu
com a primavera do Papa João XXIII? Além dos propósitos que se movem pela
emoção, há um plano e um projeto de real e radical transformação eclesial?
São preocupações que levo comigo para estes últimos dias de
2017 e espero possamos juntos pensá-las em 2018 e por muito tempo mais.
Feliz Ano Novo!
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