Primeiro dia de fevereiro. Primeiro dia de férias. Um dos poucos dias de sol e sem vento no litoral norte gaúcho. Preparo meu mate, junto cadeira e guarda sol e vou até a praia. Água azul e ondas calmas: espetacular. Instalo o guarda sol, acomodo a cadeira e, cuia apos cuia, sorvo o mate embalado pelo rítmico bater das ondas.
A medida que o sol esquenta, a praia vai sendo colorida por outros guarda-sois, cadeiras e pessoas de todas as idades, sexos, pesos, cores e estilos. A poucos metros ao meu lado direito, três mulheres de três distintas gerações: avó, mãe e filha. Da mesma forma que eu tinha feito, instalam seu guarda-sol, duas cadeiras, a toalha e os brinquedos para a menina. Mais uns metros e outra senhora também prepara seu lugar para passar a manhã. Tampouco ela veio sozinha. Acompanha-a um cachorrinho que ela ternamente chama de "filhinho". Instalado o guarda sol e a cadeira, o cãozinho - aparentemente macho - dá a clássica volta ao redor do sítio e deita-se entre os pés da mamãe.
De forma quase sincronizada, as três senhoras levantam-se e se dirigem até a água. São nada mais que oito a dez metros. A menininha, ocupada com seus brinquedos, continua sob o guarda-sol e o olhar vigilante de duas gerações. O cãozinho, por sua vez, acompanha sua mae até a água. De repente, ao perceber que a criança ficará só, o cao dispara em direção aos guarda-sois. Numa primeira mordida, arrasta a toalha sobre a qual estava sentada a criança. Na segunda, destrói o patinho de borracha. Antes que a terceira dilacere uma mao, um pe ou o rosto da menina, a mae alcança a criança e a protege no seu colo. O cãozinho permanece rosnando ao redor. Sua mãe chega e, olhando a menininha que esconde seu rosto no regaco da mãe, vocifera em tom ameaçador: "-- Você devia afastar essa criança daqui. Ela está incomodando meu filhinho! "
A avó, refeita do susto, em silêncio e sabedoria, fecha o guarda-sol, dobra as cadeiras, recolhe toalha e brinquedos e, seguida pela filha e neta, afasta-se para o lado esquerdo de onde estou sentado. A outra senhora também recolhe seu guarda-sol, sua cadeira, seu cãozinho e toma o caminho de casa.
Os olhares dos circundantes que, pela rapidez da cena não puderam intervir, impediam que ela ai continuasse. Era uma manhã de sol, sem vento, de águas limpas e ondas suaves. Algo raro no litoral norte gaúcho.
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