Por que temos um Donald Trump na Presidência dos Estados
Unidos? Porque antes tivemos um Barack Obama... Simples assim. O Trump se
elegeu prometendo desfazer tudo o que o Obama tinha feito: o plano de saúde
popular conhecido como “Obama Care”; os direitos das minorias sociais, étnicas
e sexuais; o tratamento digno para com os migrantes que a própria economia
norte-americana necessita; um menor unilatelarismo imperial nas relações
internacionais... Quem elegeu Trump? É conhecido até pelas árvores das ruas de
Whashington que Trump foi o candidato da “velha indústria” americana – armas,
segurança, automóveis e petróleo – que capitalizou os medos da classe média
tradicional “wasp” (white, anglo-saxon
and protestant) que sentia sua hegemonia sacudida pela emergência de novos
sujeitos sociais tão simbolicamente representados pelo casal presidencial
Barack e Michelle Obama. E Trump está dando respostas concretas aos que o
elegeram. Ele não é louco. Muito antes pelo contrário. Ele tem uma clareza
política ímpar e toma as pequenas decisões do dia-a-dia fundamentado neste
norte político.
Por que temos um Papa Francisco à frente da Igreja Católica?
Porque antes tivemos um Papa João Paulo II e um Papa Bento XVI. Simples
assim... O Papa Francisco foi eleito para desfazer muito do que seus
predecessores tinham feito à frente da Igreja Católica Romana: uma excessiva
preocupação com a verdade dogmática, uma burocracia focada no dinheirismo e
devassa do ponto de vista moral, um fechamento às novas realidades
contemporâneas, um medo à democracia e ao popular, uma elitização gnóstica e
uma liturgia e uma moral de corte pelagianiano... Quem elegeu o Papa Francisco?
Até as Colunas de Bernini, mesmo sem nunca terem-se movido do lugar onde estão
há cinco séculos, sabem que Francisco Bergoglio foi eleito pela maioria
silenciosa dos cardeais que nos últimos 30 anos foram sistematicamente
relegados pela Cúria Romana ao ostracismo eclesiástico e viam suas igrejas
definharem em meio aos escândalos vaticanos e os novos desafios da realidade. E
o Papa Francisco está dando respostas aos que o elegeram. Seus gestos e suas
palavras – tanto nos grandes textos das Exortações Apostólicas e nas Encíclicas
como nos pequenos textos dos sermões e catequeses – ele apresenta
performaticamente um novo rosto da Igreja cuja maior característica é a alegria
e a esperança para os que sofrem. Ele não é o anti-papa nem um pastor sem teologia
como querem seus detratores. Tudo o que faz e diz é norteado pelo princípio do
amor misericordioso pregado e vivido por Jesus.
Por que temos um golpe parlamentar-midiático-jurídico em
curso no Brasil? Porque antes tivemos um Lula durante oito anos na Presidência
e uma sua sucessora que, reeleita, ameaçava levar adiante o mesmo projeto por
mais oito anos. Simples assim... Os governos Lula e Dilma, mesmo em meio a
grandes contradições e a uma oposição feroz, estavam fazendo aquilo para o qual
foram eleitos: tirar o Brasil do mapa da miséria e da fome através dos
programas sociais, abrir as portas das escolas e das universidades às crianças
e aos jovens de baixa renda que antes nunca haviam podido alcançar tais níveis
de escolarização, criar políticas para o resgate da identidade e afirmação das
peculiaridades de negros e quilombolas, fazer com que os direitos humanos
básicos fossem acessíveis àqueles e àquelas que sempre tiveram sua humanidade
espezinhada, oferecer emprego, casa e saúde digna para a maioria da população,
fortalecer a economia nacional e inserir o país, de forma soberana e altiva, no
cenário internacional... Quem elegeu Lula e Dilma? Até as emas dos jardins do
Palácio da Alvorada sabem que o voto que elegeu Lula e Dilma veio das camadas
mais pobres da população do campo e da cidade. E esse voto e as mudanças
sociais nele fundamentadas começaram a mudar a cara da sociedade brasileira. E
aqueles que governaram durante 500 anos o Brasil sentiram sua hegemonia
ameaçada pelos novos sujeitos sociais que se transformavam em sujeitos
políticos. E é bom lembrar que a reação não é recente. Começou com o dito
“Mensalão” de 2005, passou pela reeleição de 2006, se explicitou nas eleições
de 2010 e 2016. Mas como através do caminho democrático - mesmo que a nossa
democracia seja apenas formal - as elites dominantes não conseguiram dar cabo
do novo projeto em ascensão, foi necessário o golpe parlamentar de 2016 e,
agora, em 2018, a joia da coroa, a prisão de Lula.
Onde vamos terminar?
Não sei... Ninguém sabe! O que esperamos é que, depois do Trump, haja um Obama
II. E depois de Francisco, um Francisco II. E nunca mais tenhamos que temer um
Temer II! E muito menos generais e seus séquitos militares a enfeiar a paisagem
do Planalto Central. Porque a democracia é um valor básico da convivência
social. Sem ela, só resta o caos. E no caos, todos perdem. Inclusive as elites!
Nenhum comentário:
Postar um comentário