Vivemos na sociedade da inovação. Todos aspiram ao novo. E,
quanto mais novo, melhor! Aquilo que aconteceu ontem, já é passado, velho
demais. O que foi feito ontem, já está ultrapassado, não serve mais. As
novidades acontecem em um ritmo cada vez mais frenético. A aceleração do tempo
parece não ter limites a tal ponto que, aquilo que ainda não aconteceu ou ainda
não saiu de fábrica, já está fora de moda. O futuro é uma miragem cada vez mais
distante que, parece, nunca alcançaremos.
Nesse contexto, a frase algumas vezes pronunciada de que
“sempre se fez assim”, pode, por um lado, incomodar por expressar um não
reconhecimento dos tempos em que estamos vivendo e, por outro, pode também ser
um sinal de resistência à cultura da obsolescência antecipada. De um lado estão
os “novidadeiros”. De outro, os tradicionalistas. De um lado os que querem
fazer sempre o novo. Do outro, os que querem fazer o que sempre já se fez, pois
na repetição do passado encontram a segurança em tempos de mudanças aceleradas
ao infinito.
Quem tem razão nesta disputa? Atrevo-me a dizer que nenhum
dos dois lados. De fato, ambos colocam o acento no “fazer”. É uma atitude
típica da cultura moderna do “homo faber” que avalia o ser humano por aquilo
que ele faz. Os que fazem coisas do passado, são ditos cavernários. Os que
fazem as coisas do futuro, visionários. Mas o que nos permite distinguir entre
o que é típico do homem das cavernas e o que é típico do homem das estrelas?
Costumo dizer, em tom de ironia, que não há nada mais
pós-moderno do que a Idade Média!... Sei que com isso não faço justiça nem a
Baumann e muito menos a Tomás de Aquino. Os dois se revolveriam nos túmulos se
ouvissem estas minhas palavras... Mas o fato é que, alguns comportamentos
humanos apontados como típicos do período medieval, estão renascendo nestes
tempos da ultramodernidade. Por exemplo, a compreensão religiosa do mundo, seja
através das religiões ou de outras expressões culturais que se organizam com a
lógica religiosa. A política, por exemplo vive de mitos fundadores, de santos,
liturgias e dogmas. E a economia também. É só observar o discurso que se faz
sobre os “humores do mercado” e veremos que ele é tratado como um Deus. E mais:
os massacres na Síria, na Líbia, no Afeganistão, no Iêmen..., não podem ser
comparados com as cruzadas medievais? Como dizia o poeta, “eu vejo o futuro
repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades.”
Qual a alternativa a essa mentalidade baseada no fazer que
tanto pode nos enclausurar no passado fossilizado como nos enlouquecer por um
futuro de miragens enganadoras? Não pretendo ter a solução, mas uma alternativa
pode ser a de passar do “homo faber” ao “homo audiens”. Deixemo-nos de
preocupar com o fazer e passemos a escutar. Passar do ativo que se pretende
dono do mundo ao auscultante que procura entender o sentido daquilo que está ao
seu redor.
Diante de Jesus que chega a sua casa, Marta e Maria têm duas
atitudes diferentes. Marta parte imediatamente para fazer aquilo que sempre
fazia quando o Mestre chegava a sua casa. Maria senta-se aos pés de Jesus para
escutar o que Jesus pede dela. E se Jesus não precisasse daquilo que Maria
estava sempre acostumada a oferecer-lhe? Seu trabalho, mesmo sendo feito com
perfeição, teria sido inútil. Antes de fazer algo, é melhor escutar, estar
atento ao que está ao nosso redor e discernir o que o momento presente pede de
nós. Se não somos capazes de ouvir os rumores do presente, podemos nos perder
num passado que já não existe ou num futuro que ainda não é e, até pode ser,
nunca será.
Menos ação e mais contemplação. Menos certezas e mais
escuta. Menos preocupação e mais auscultação. E nossa ação não será sem sentido
e nem inútil!
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