Falar de futebol é sempre arriscado. Principalmente no
Brasil. Aqui, as rígidas regras do esporte bretão foram dribladas pela ginga e
criatividade típicas do brasileiro. Com vantagens e desvantagens. O lado bom da
flexibilização é que proporcionou o surgimento dos Garrinchas, Romários e
Túlios que encantaram o mundo e nos deram tantos títulos. Por outro, nunca
tivemos em nenhuma equipe brasileira um Alex Ferguson e suas duas décadas e
meia à frente do Manchester. Nos campeonatos brasileiros, o normal é que nenhum
time inicie a temporada e vá até seu fim com o mesmo elenco e o mesmo
treinador.
Por falar em treinador, é sabido por todos que nenhum
brasileiro conseguiu se firmar à frente de uma equipe europeia. Não por
incompetência. A causa é cultural. Na última final da Champions League em que o
Real Madrid massacrou a Juventus, era interessante a figura dos dois
treinadores, Zinedine Zidane na esquadra espanhola e Massimiliano Allegri na
turinesa. Os dois foram jogadores de futebol e agora estavam à beira do campo.
Os dois de terno. Meio desalinhado o de Zidane, é certo. Mas sempre um terno,
clássico, elegante. O de Allegri, então, perfeito, italiano. Só isso diz tudo.
Os dois com gestos comedidos como cabe a um treinador... europeu. Emoção
mínima. Eficiência máxima.
Quanta diferença com um Abel Braga, Joel Santana, Murici
Ramalho, Renato Gaúcho... só para falar em alguns da atualidade. Estes não
cabem dentro de um terno. O Renato até que tenta usar camisas sociais, mas a
calça é jeans e, no pé, os tênis. De marca, óbvio. Mas não são sapatos
italianos! São tênis. Roupa esportiva e não executiva.
No auge da carreia, o Wanderlei Luxemburgo foi treinar o
Real Madrid. Fracassou. Não tinha o perfil europeu. Mas voltou de lá vestindo
terno à beira do gramado. Dunga, talvez pela longa experiência como jogador na
Itália, ao assumir como treinador no Brasil, também primava pela roupa social.
De elegância duvidosa em certas ocasiões, como todos pudemos notar. Também não
deu certo. Mais recentemente, aqui na Província de São Pedro de Rio Grande,
outro treinador com passagem pela Europa como jogador, passou a dirigir uma da
Série B, fardado com elegantes ternos italianos. Fracassou rotundamente... Ele
vestia terno italiano. Mas não tinha jogadores italianos. Nem treinava um time
italiano. E nem participava de um campeonato italiano. A realidade que estava à
sua frente não se transformava pelo fato de ele usar um terno italiano.
Lembro disso tudo ao reparar o cenário político brasileiro e
seu messianismo mágico. Personagens que vestem um traje – de presidente, de
juiz, procurador, ministro, senador, deputado, prefeito... – e acham que isso é
suficiente para que todos os considerem como tal e submetam-se a seus ditames.
Pelo simples fato de usarem um terno, uma faixa, uma toga, acham que tem
autoridade. Mas para ser autoridade, é preciso muito mais. É preciso o respaldo
do povo, da nação, da urna, da democracia.
Por isso, mesmo admirando a eficácia do futebol europeu,
ainda prefiro nossos Garrinchas, Romários, Abeis, Joeis, Muricis, Renatos...
que não vestem ternos e togas, mas tem o jeito e a ginga do povo brasileiro,
falam a linguagem do povo brasileiro e, sem sonhar em ser espelhos cacofônicos
da Europa, ganham títulos com o povo brasileiro.
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