Não foi o Temer que inventou a
reforma trabalhista. Ele faz parte dela. Mas talvez não seja a principal. Ele é
a cara visível – e risível, segundo alguns – deste projeto. Mas o projeto não é
dele. É anterior a ele. Sua sorte ou azar, dependendo do ponto de vista, foi a
de estar no lugar apropriado para apropriar-se de um projeto que outros tantos
já costuravam nos socavões do poder que não ficam exatamente em Brasília.
Mas como ele estava no local
indicado, no momento indicado e parecia ser o homem indicado, foi alçado à
Presidência com a tarefa de levá-la adiante. Não fosse ele, seria outro. E, se
não for ele, os verdadeiros donos dos fios que mandam e desmandam, vão tentar
colocar outro.
Mas a história sempre foi assim.
E falo de história longa. Aquela que no nosso imaginário ocidental parece ser a
mais antiga, a história bíblica. Há poucos dias me dei conta que a primeira
proposta de reforma trabalhista está no Antigo Testamento. Bem lá no início, no
Livro do Êxodo, quando Moisés foi, a mando de Deus, pedir que o Faraó desse o
descanso semanal para os escravos hebreus. O Faraó, no lugar de atender as
reivindicações, fez uma Reforma Trabalhista: tirou todo e qualquer dia de
descanso, aumentou a carga horária diária de trabalho, reduziu o pessoal e
aumentou as metas de produção. E ainda tentou convencer os próprios hebreus de
que eram preguiçosos e deviam trabalhar mais. Ocupados, não dariam ouvidos a
loucos sindicalistas como Moisés.
Para sorte de Moisés e dos
hebreus, eles tinham Deus por aliado! Ele ajudou os israelitas a fugir. Mas não
foi fácil... Antes teve que usar o terror das pragas para convencer o Faraó e
seus capatazes de que deveriam deixar o povo ir em paz. Rãs, mosquitos, moscas,
peste nos rebanhos, doenças nos humanos, chuva de pedras que mataram animais e
destruíram plantações, nuvens de gafanhotos e três dias de escuridão. A cada
praga, o Faraó se arrependia, mas, em seguida, vendo o prejuízo que lhe podia
acarretar a folga de três dias que os hebreus pediam, voltava atrás. Foi só com
a devastadora morte dos primogênitos que o Faraó finalmente deixou os hebreus
partirem. Mas depois se arrependeu, tomou seu exército e foi atrás deles para
impedir que atravessassem o Mar Vermelho e saíssem de seus domínios. E dessa
parte da história todos lembram o fim...
Voltando à reforma trabalhista de 2017: quantas
e quais pragas do Egito serão necessárias para que os faraós neoliberais
adoradores do deus-mercado se convençam a deixar o povo descansar, pelo menos
uma vez por semana? Oxalá Deus não tenha endurecido seu coração a ponto de
exigirem a morte dos próprios primogênitos e, num gesto de insana teimosia,
deixarem-se tragar pelas revoltas águas do Mar Vermelho.
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