É muito difícil ganhar uma partida de futebol quando o juiz
joga com o time adversário. Todos sabem disso. Tanto na várzea como no futebol
profissional. Nos meus velhos tempos de atleta varzeano, o grande dilema,
quando acertávamos um jogo com algum time de uma comunidade da vizinhança, era
saber se o juiz ia ser “nosso” ou “deles”. Como os acertos normalmente eram de
dois jogos, um em cada localidade, a praxe era que o time visitante indicasse o
juiz. Assim se buscava um equilíbrio entre o fator local e o fator juiz. E isso
era ainda mais grave porque, no futebol varzeano, não havia bandeirinhas. Todas
as decisões eram tomadas monocraticamente pelo todo poderoso árbitro.
Dispensável é dizer que, assim como os jogadores, o árbitro
também era amador. Apitava a partir da experiência e do que ouvia no rádio e
via na televisão que, naquele tempo, começava a aparecer no interior. Os erros
eram muitos. Todos sabiam disso, mas como gostavam de futebol e, sem juiz, não
havia jogo, todos toleravam condescendentemente os erros que, involuntariamente
o árbitro cometia.
A coisa só enfeiava quando o encarregado do apito começava a
tomar decisões com o claro intuito de favorecer o time de sua localidade. Aí havia
três opções. A primeira, substituir o juiz. A segunda, mais radical, era a do
time que se sentia prejudicado retirar-se do campo e, assim, encerrar o jogo. A
terceira, rara, mas possível, era a de partir para a violência física que podia
voltar-se contra o juiz ou contra o time adversário quando esse dava cobertura
aos erros do juiz.
Lembro disso neste momento conturbado do país em que os
juízes encarregados de arbitrar os diferendos sociais jogam sistematicamente a
favor de um dos lados do conflito social. Enquanto absolvem sistematicamente
todas as faltas cometidas pelos principais jogadores de um time, classificam
como faltosas qualquer atitude dos representantes do outro time, mesmo aquelas
que nunca foram cometidas.
Como no futebol de várzea em que nos divertíamos nos
domingos à tarde, para que a paz volte e o “jogo Brasil” possa continuar, o
ideal seria substituir os juízes partidários. Mas como o time por eles
favorecido dificilmente acatará essa possibilidade, restam as outras duas. A
segunda, de o time que se sente prejudicado deixar o Brasil, me parece inviável.
Como e para onde iriam os 97% de brasileiros e brasileiras prejudicadas pela
parcialidade arbitral? Nem duas Argentinas seriam suficientes para acolher a
todos! E lá, pelo que se sabe, as coisas não são muito diferentes. Do outro
lado do Rio da Prata, a parcialidade dos juízes parece ser ainda maior que a do
Brasil.
Meu temor, então, é que só reste a terceira alternativa: que
os que se sentem prejudicados se voltem contra os juízes iníquos e contra
aqueles que sustentam suas decisões que desequilibra o jogo. Com isso, existe a
possibilidade de que o jogo acabe para todos, e da forma mais lamentável
possível. É o que temo neste momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário