Conforme a narrativa do evangelista João, as primeiras
experiências do encontro da comunidade com o Ressuscitado acontecem “no
primeiro dia da semana”.
Para nós, cristãos, acostumados com o calendário que consagra este acontecimento, o primeiro dia da semana é o domingo, dia consagrado de encontro com a comunidade e com o Senhor. Para os homens e mulheres que seguiam a Jesus, o primeiro dia da semana era dia de labuta, de volta às atividades diárias depois do descanso sagrado do sábado. O “primeiro dia da semana” dos judeus equivaleria à nossa segunda-feira. Foi nesse dia normal, profano, laboral, que Jesus se manifestou às discípulas e discípulos.
Para nós, cristãos, acostumados com o calendário que consagra este acontecimento, o primeiro dia da semana é o domingo, dia consagrado de encontro com a comunidade e com o Senhor. Para os homens e mulheres que seguiam a Jesus, o primeiro dia da semana era dia de labuta, de volta às atividades diárias depois do descanso sagrado do sábado. O “primeiro dia da semana” dos judeus equivaleria à nossa segunda-feira. Foi nesse dia normal, profano, laboral, que Jesus se manifestou às discípulas e discípulos.
A primeira experiência do ressuscitado foi a de Maria
Madalena junto ao sepulcro. Diferentemente de Pedro e João que viram o sepulcro
vazio e não ligaram o que os seus olhos viam com o que ensinava a Escritura,
Maria Madalena, ao ser chamada pelo nome, reconheceu a ressurreição de Jesus e
o cumprimento da promessa da vitória da morte sobre a vida.
A segunda experiência com o ressuscitado aconteceu na tarde
daquele primeiro dia. Desta vez, não apenas a Maria Madalena, Pedro e João. É
toda a comunidade dos discípulos e discípulas que é encontrada por Jesus. Com
efeito, eles estavam fugindo, estavam com medo de que o que aconteceu com Jesus
pudesse acontecer com eles também. Não seria absurdo se as cruzes que
sustentaram o corpo de Jesus e os corpos de seus dois companheiros, fossem
ocupadas para pender os corpos daqueles que com Ele tinham feito o caminho da
Galileia a Jerusalém. Aqueles homens e mulheres sabiam muito bem de que o
Império Romano era capaz. E sabiam eles também do que era capaz o povo judeu
espezinhado e humilhado pelo portentoso império. A cada ano, quase sempre no tempo
da Páscoa que celebrava a libertação da escravidão do Egito, grupos de judeus
tomavam em armas e manifestavam sua revolta e cólera atacando e, quando
possível, assassinando os soldados invasores. E o sangue – tanto judeu como
romano – jorrava pelos campos, colinas, montanhas, caminhos, vilarejos, cidades
e até na Cidade de Jerusalém e – para horror de todos – até no Templo Santo.
É nesse clima de terror imperial e ódio popular contra os
romanos e seus testa de ferro locais que Jesus se faz presente no meio deles e
lhes oferece a paz. Oito dias depois ele novamente se dirigiu aos discípulos e
discípulas e saudou-os dizendo “a paz esteja com vocês!” Por que tanta
insistência em Jesus nesta saudação de paz? Primeiro, como os textos mesmo o
explicitam, porque aqueles homens e mulheres tinham sido tomados pelo medo do
império opressor e seus sequazes nacionais que impunham a ordem à ferro, fogo e
crucificações. Segundo, por que havia a tentação, entre os próprios discípulos,
de revidar da mesma forma e fazer girar a roda insana da violência que se
alimenta da própria violência.
Hoje, no nosso contexto, todos sabemos como essa roda insana
funciona. À violência dos que muito têm para proteger-se dos despossuídos da
terra gera reações de violência que justificam mais repressão e morte. E isso
acontece tanto em escala global como em escala local e até mesmo nas relações
individuais quando a legalização da violência e de seus instrumentos de
execução é apresentada como única forma de se obter segurança.
Mas, segurança não é paz! A segurança é fruto do medo. E
mais do que eliminar o medo, ela o aumenta, pois, ao rodear-se de grades,
cercas, muros e armas, a pessoa ou grupo de pessoas reconhece que o suposto
inimigo continua vivo do outro lado do muro. Seja do lado de dentro ou seja do
lado de fora. A paz, a verdadeira paz, só é possível quando os muros forem
destruídos e as armas atrás deles ou encima deles postadas forem transformadas
em foices e arados, como já dizia antigamente o profeta Isaías.
Essa paz, no entanto, como bem o mostra o evangelista João,
só pode ser proclamada e realizada por aqueles e aquelas que foram capazes de
vencer a morte. É a paz daquele que fez justiça para com o injustiçado e assim
iniciou um futuro de novas relações onde não mais há opressores e espezinhados.
O que venceu a morte, não foi a força do Império Romano com
suas legiões armadas com lanças, flechas, carros, cavalos e o terror da cruz
justificado pelos juízes sedentos de vingança que aplicavam seletivamente as
leis, tanto judaicas como romanas, que não admitiam que um pobre camponês fosse
reconhecido pelo povo como seu verdadeiro líder. O que venceu a morte, foi o
humilde nazareno que passou a vida consolando os pais que perderam seus filhos
assassinados pelos guardas do Templo e pelos soldados romanos, as mães que
tiveram suas filhas raptadas ou estupradas pelo patriarcado factual e legal, os
doentes e leprosos expulsos da cidade para não contaminarem os saudáveis
cidadãos que tinham acesso à medicina, as crianças das ruas e praças dos
vilarejos a quem era negada a condição humana e podiam ser eliminados para não
enfeiar os passeis dos puros e limpos em direção ao Templo.
O que venceu a morte e podia proclamar a paz como modo de
vida, é aquele que ensinou que, repartindo o pão acumulado nos silos e
alforjes, é possível alimentar as multidões famintas e assim iniciar a romper o
ciclo da violência que degrada tanto aos que a exercem como aos que a sofrem.
Neste tempo pascal, deixemo-nos saudar com a paz que nasce
da justiça que liberta aqueles e aquelas que foram injustamente condenados
pelos poderosos que clamam discursos de pacificação, prendem, condenam e matam.
Não nos deixemos vencem pelo discursos de ódio e pela propaganda da violência.
Não deixemos que nos roubem a paz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário