A metáfora é uma das figuras de linguagem mais utilizadas e
mais poderosas. Através dela, transpomos o significado de algo já conhecido
para algo ainda desconhecido e em processo de conhecimento. No falar ou
escrever do dia-a-dia, utilizamos muitas metáforas. Na maior parte dos casos, fazêmo-lo
sem nos darmos conta.
Tal fenômeno é notável, sobretudo, na linguagem religiosa. Com
efeito, falar de Deus implica em tentar dizer aquilo que ultrapassa a
capacidade da expressão. Deus é indizível e incircunscritível. Como fazer com
que caiba dentro de nossas palavras? Dele, só podemos dizer algo usando
metáforas tiradas daquilo que nos é conhecido.
A nossa profissão de fé, o “Creio”, é cheio de metáforas. Uma
delas é forte e famosa e está no imaginário de todas as pessoas cristãs. A de
que “Jesus subiu as céus”. É uma metáfora que parece pois, na nossa fé,
afirmamos que Deus é Espírito e habita em todos os lugares. Se é assim, como o
afirmava o velho catecismo de São Belarmino, faz algum sentido tomar esta
expressão de forma literal e imaginar Jesus subindo aos céus em meio às nuvens?
O que esta metáfora, de fato, quer dizer?
Tomando como referência o imaginário bíblico e a cultura do
mundo em que os textos foram que falam da Ascensão foram escritos, podemos
afirmar que “subir aos céus” significa, conceitualmente, que Jesus é Deus. Tanto
no mundo judaico como no mundo grego, imaginava-se os deuses morando nos
lugares altos. As manifestações bíblicas de Deus aconteciam, normalmente, em
lugares altos. O Monte Sion, o lugar onde estava construído o Templo de
Jerusalém, mesmo não sendo a maior elevação da região, era tido pelos judeus
como o lugar mais elevado da Terra. Para os gregos, os deuses moravam no monte
Olimpo e, lá das alturas, contemplavam e, conforme o caso, premiavam ou
castigavam os míseros mortais que habitavam as planícies.
A verdade de que Jesus, o Filho de Deus, é Deus com o Pai e
o Espírito Santo, descrita na metáfora da Ascensão, foi elaborada
conceitualmente e proclamada pela Igreja nos Concílios de Niceia e Calcedônia
que abandonou a metáfora da Ascensão e afirmar a consubstancialidade entre o
Pai e o Filho. Poucos cristãos sabem o que significa “consubstancial”. Mas todos,
sem esforço, entendem a metáfora da Ascensão...
Por sua plasticidade, a metáfora é uma figura aberta. Ela é
passível de novas interpretações a partir de novas pergunta se novos contextos.
Nisso está sua riqueza e amplitude. No caso da metáfora da Ascensão, ela também
pode ser lida a partir da linguagem do teatro. Tal interpretação é possível a
partir da dica dada pelo texto dos Atos dos Apóstolos. Lucas, ao descrever a
cena da Ascensão, afirma que, enquanto Jesus desaparecia entre as nuvens, dois
homens vestidos de branco apareceram aos discípulos e disseram-lhes: “Homens da Galileia, por que ficais
aqui, parados, olhando para o céu?”
Na metáfora da Ascensão, Jesus sai de cena. Durante três
anos, ele havia sido o personagem central e os apóstolos os coadjuvantes e,
alguns, a plateia. Agora Ele sai do palco. Jesus se retira para que eles
assumam o protagonismo da missão. Aos discípulos e discípulas cabe agora serem
os mensageiros e atuadores do Reino. Ele já fez a sua parte. Agora, a
responsabilidade recai sobre os homens e mulheres que o acompanharam desde a
Galileia e com Ele aprenderam a arte de atuar o Reino de Deus.
Mas, como bom mestre, Jesus não os deixa sozinhos. Deixa-lhes
o Espírito Santo. E promete-lhes sempre estar presente para dirigir a sua obra
prima para que o espetáculo do Reino não se perca. Agora, é o tempo da Igreja. Nada
de ficar olhando para cima. Deus não está acima de todos. Ele está ao nosso
lado. Tanto no irmão e na irmã com o qual solidariamente unimos as mãos quanto
naquele que está caído e estende a mão para ser levantado. É hora de atuar. É hora
de seguir o caminho de Jesus para que um dia nós também possamos ser elevados
aos céus.
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