Não se assustem! Não
tem nada a ver com explosão, com destruição, com morte. E tampouco com bombas e
terrorismo... É apenas uma questão de etimologia, de origem das palavras. Nossa
“dinamite” da Língua Portuguesa tem sua origem no grego dynamis. Na língua de Heródoto, dynamis
significa força, energia, poder. A língua de Camões é abundante em palavras que
dela derivam. Entre elas, temos dínamo,
dinamizar, dinâmico, dinamismo, dinamômetro...
Na Bíblia,
especificamente no Novo Testamento, essa palavra tem um uso muito preciso.
Mesmo presente em outros escritos com o mesmo sentido, é na literatura lucana
que ela mais aparece. No Evangelho de Lucas e nos Atos dos Apóstolos, dynamis indica a força de Deus que age
em Jesus e pela qual ele cura as pessoas que dele se aproximam. Também indica a
força com a qual ele anuncia a Boa Nova do Reino sem temer aos poderosos deste
mundo. Dynamis que Jesus transmite
aos seus discípulos e discípulas e que nelas atua para dar continuidade à sua
missão. No caminho da comunidade de Jesus, essa dynamis ganhou um nome próprio: é o Espírito que, com o Pai e o
Filho, formam a Trindade Divina.
Presente em cada
criatura, a dynamis tem diversos
modos de manifestar-se e atuar. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, muitas
são as figuras utilizadas para dela falar: fogo, nuvem, vento, trovão,
tempestade, terremoto, brisa suave, água, pomba... Em todas elas, algo em
comum: é um agir incontrolável, que não pode ser gerado, nem detido e muito
menos direcionado pelos humanos. A dynamis
de Deus age onde quer, quando quer e como quer.
Mas há um lugar
especial para a sua manifestação. Um lugar muito comum, que muitas vezes nos
passa despercebido. É a palavra humana. É pela dynamis divina que os profetas do Antigo Testamento sentiam-se
impelidos a falar. E, às vezes, a dizer o que não queriam e não gostariam de
dizer. Maria, Isabel, Zacarias, João Batista e o próprio Jesus falam pela dynamis do Espírito. Do mesmo modo os
discípulos e discípulas de Jesus o fazem. Naquele tempo e ainda hoje.
É deles que o Papa
Francisco, na audiência de 30 de maio próximo passado, diz que “quando o Espírito visita a palavra humana,
esta torna-se dinâmica como ‘dinamite’”. A figura é forte, e por isso chamou a
atenção. O detalhe é que muita gente esqueceu a continuidade da frase do Papa.
Por que ela é importante? Porque nos fala das consequências desta explosão do
Espírito na palavra humana. Diz o Sumo Pontífice: a explosão do Espírito na
Palavra humana “é capaz de inflamar os corações e fazer saltar esquemas,
resistências, muros de divisão, abrindo caminhos novos e alargando as
fronteiras do Povo de Deus.”
E é isso o mais importante: a dynamis
de Deus é força de novidade, de ruptura e superação de velhos esquemas e de
criação do novo. Em tempos em que parte da humanidade e dos cristãos teima em
aferrar-se e fechar-se dentro de muros encarquilhados e grades enferrujadas – sejam
eles materiais, mentais ou espirituais – que lhes dão uma falsa sensação de
proteção e segurança, o Espírito de Deus irrompe com sua força incapaz de ser
contida e convida para a novidade da construção de um mundo aberto, sem muros,
sem grades, sem armas, sem condenações e sem exclusões. Um mundo em que todas
as pessoas possam encontrar-se, vindas do norte, do sul, do leste e do oeste e
possam conviver na pluridiversidade em que cada um entende o outro a partir de
sua língua, de sua cultura, de sua religião. É o sonho desenhado por Lucas nos
Atos dos Apóstolos quando narra a irrupção do Espírito sobre a multidão
multinacional, pluricultural e ecumênica reunida em Jerusalém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário