sexta-feira, 21 de julho de 2017

ANDO DEVAGAR...

Ando devagar porque já fui multado. Mais de uma vez... Verdade que nunca foi por exagero. Ainda tenho pontos na carteira para continuar dirigindo. Minhas multas foram daquelas multas idiotas. O limite era 50 sobre a ponte do Rio Gravataí, na Rodovia do Parque. Passei a 63. Demorou mais de três meses, mas ela chegou. Descendo a BR 470, de Carlos Barbosa em direção a São Vendelino, o limite era de 60 por hora e eu fui flagrado, por um radar móvel, aquele tipo “secador de cabelo”. O policial estava escondido atrás de uma árvore, logo depois da curva. E eu a 73 quilômetros por hora. Coisa mínima. Um pouquinho além do limite. Mas o suficiente para ter os pontos na carteira de motorista e uns reais a menos na carteira onde guardo o pouco dinheiro que ganho.
Tem outra multa que ainda estou esperando. Na mesma BR 470, na passagem por Bento Gonçalves. De novo o policial rodoviário escondido atrás de uma curva. Com a federalização, a estrada melhorou muito, há que se reconhecer. Não tem mais buracos, a sinalização é boa, iluminação e radares. Tudo bem... O pessoal que estava acostumado com a buraqueira, agora que a estrada está boa, tem a tentação de recuperar o tempo perdido. Daí a razão dos radares móveis e das multas. Mas a minha multa foi injusta. Verdade que todos dizem isso! Mas eu explico e peço sua consideração. Depois do último pardal fixo, onde a velocidade é de 50, você vê o sinal de que pode andar a 60, depois a 80, aí, 200 metros depois, a velocidade volta a 40. Sem nenhuma razão aparente, 300 metros adiante volta a 60, depois a 80 e, subitamente, depois da curva, lá está a placa de 50 quilômetros por hora. E aí já não há tempo para reduzir a velocidade. O policial aí está, impávido, com o olho na mira acompanhando o deslocamento do carro. O alvo é a placa. Não tem apelo! Só esperar o golpe.
O mesmo ocorre no entorno de Carlos Barbosa, Veranópolis e Vila Flores que também são cruzadas pela BR 470. Não há uma lógica para as velocidades estabelecidas. Parece que juntaram um monte de placas com números diferentes e foram espalhando-as aleatoriamente ao longo do caminho. Essa forma ilógica de dispor as placas parece ser a única lógica plausível no caso.
Mas, e é aí que eu fico ainda mais espantado, é que, se você tenta obedecer à sinalização e rodar nas velocidades estabelecidas, aí você corre um sério risco muito maior que o da possível multa. O risco de ter seu carro abalroado por alguém que vem atrás. Aí estão as placas com seus números implacáveis, você segue a velocidade indicada e atrás vem um, dois, três, vários carros, camionetes, caminhões com dois, três, quatro eixos, bitrens e tudo mais que anda sobre duas, quatro, seis, oito ou não sei quantas rodas, dando luz alta em pleno dia, sinalizando que vão ultrapassar, buzinando, acenando com o braços, insultando sua linhagem materna até a sétima geração, afirmando aos berros que sua mulher sai com todos os homens da cidade e que você não pode mais passar por baixo dos fios de alta tensão, duvidando de sua identidade de gênero, mandando você prá tudo o que é lugar, inclusive aquele... Tudo isso para reclamar que você está andando na velocidade estabelecida para aquele trecho. E todos eles sabem que, atrás da próxima curva, pode haver um policial com um “secador de cabelo” na mão, mirando para você, para eles, para todos nós e que, em breve, a temida multa chegará a nossas casas.
Sinceramente. Não entendo nem uma coisa nem outra. Mas fiz o estoico propósito de que não vou me alterar nem com a ilógica distribuição das placas de velocidade e nem com os intrépidos colegas de volante que sabem que podem ser multados, mas continuam insistindo em andar em velocidades superiores às estabelecidas.

Para me ajudar a manter o propósito, no pen-drive que me acompanha nas viagens, entre outras músicas, a impagável do Almir Satter: “Ando devagar porque já tive pressa...” 

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