Ando devagar porque já fui
multado. Mais de uma vez... Verdade que nunca foi por exagero. Ainda tenho
pontos na carteira para continuar dirigindo. Minhas multas foram daquelas
multas idiotas. O limite era 50 sobre a ponte do Rio Gravataí, na Rodovia do
Parque. Passei a 63. Demorou mais de três meses, mas ela chegou. Descendo a BR
470, de Carlos Barbosa em direção a São Vendelino, o limite era de 60 por hora
e eu fui flagrado, por um radar móvel, aquele tipo “secador de cabelo”. O
policial estava escondido atrás de uma árvore, logo depois da curva. E eu a 73
quilômetros por hora. Coisa mínima. Um pouquinho além do limite. Mas o
suficiente para ter os pontos na carteira de motorista e uns reais a menos na
carteira onde guardo o pouco dinheiro que ganho.
Tem outra multa que ainda estou
esperando. Na mesma BR 470, na passagem por Bento Gonçalves. De novo o policial
rodoviário escondido atrás de uma curva. Com a federalização, a estrada
melhorou muito, há que se reconhecer. Não tem mais buracos, a sinalização é
boa, iluminação e radares. Tudo bem... O pessoal que estava acostumado com a
buraqueira, agora que a estrada está boa, tem a tentação de recuperar o tempo
perdido. Daí a razão dos radares móveis e das multas. Mas a minha multa foi
injusta. Verdade que todos dizem isso! Mas eu explico e peço sua consideração.
Depois do último pardal fixo, onde a velocidade é de 50, você vê o sinal de que
pode andar a 60, depois a 80, aí, 200 metros depois, a velocidade volta a 40. Sem
nenhuma razão aparente, 300 metros adiante volta a 60, depois a 80 e,
subitamente, depois da curva, lá está a placa de 50 quilômetros por hora. E aí
já não há tempo para reduzir a velocidade. O policial aí está, impávido, com o
olho na mira acompanhando o deslocamento do carro. O alvo é a placa. Não tem
apelo! Só esperar o golpe.
O mesmo ocorre no entorno de
Carlos Barbosa, Veranópolis e Vila Flores que também são cruzadas pela BR 470.
Não há uma lógica para as velocidades estabelecidas. Parece que juntaram um
monte de placas com números diferentes e foram espalhando-as aleatoriamente ao
longo do caminho. Essa forma ilógica de dispor as placas parece ser a única
lógica plausível no caso.
Mas, e é aí que eu fico ainda
mais espantado, é que, se você tenta obedecer à sinalização e rodar nas
velocidades estabelecidas, aí você corre um sério risco muito maior que o da
possível multa. O risco de ter seu carro abalroado por alguém que vem atrás. Aí
estão as placas com seus números implacáveis, você segue a velocidade indicada
e atrás vem um, dois, três, vários carros, camionetes, caminhões com dois,
três, quatro eixos, bitrens e tudo mais que anda sobre duas, quatro, seis, oito
ou não sei quantas rodas, dando luz alta em pleno dia, sinalizando que vão
ultrapassar, buzinando, acenando com o braços, insultando sua linhagem materna
até a sétima geração, afirmando aos berros que sua mulher sai com todos os
homens da cidade e que você não pode mais passar por baixo dos fios de alta
tensão, duvidando de sua identidade de gênero, mandando você prá tudo o que é
lugar, inclusive aquele... Tudo isso para reclamar que você está andando na
velocidade estabelecida para aquele trecho. E todos eles sabem que, atrás da
próxima curva, pode haver um policial com um “secador de cabelo” na mão,
mirando para você, para eles, para todos nós e que, em breve, a temida multa
chegará a nossas casas.
Sinceramente. Não entendo nem uma
coisa nem outra. Mas fiz o estoico propósito de que não vou me alterar nem com
a ilógica distribuição das placas de velocidade e nem com os intrépidos colegas
de volante que sabem que podem ser multados, mas continuam insistindo em andar
em velocidades superiores às estabelecidas.
Para me ajudar a manter o
propósito, no pen-drive que me acompanha nas viagens, entre outras músicas, a impagável
do Almir Satter: “Ando devagar porque já tive pressa...”
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