Todos os que vivemos a infância ou adolescência nas
duas últimas décadas do século passado, tivemos o privilégio de conhecer o
Chapolin Colorado. Ele deu o nome à serie mexicana que, com mais de duzentos
episódios, retratava situações hilariantes de um super-herói sem poderes que,
com suas trapalhadas, conseguia salvar pessoas em situação de perigo. O cômico
personagem era vivido por Jorge Bolaños, o mesmo da série "O Chaves" e continua
sendo reprisado em alguns canais de televisão.
Parodiando os filmes de super-heróis
norte-americanos, o Chapolin Colorado aparecia quando alguém, em perigo,
gritava a frase: “E agora, quem poderá me salvar?” ou então, “E agora, quem poderá
me defender?” ou “E agora, quem poderá me ajudar?”
A série, direcionada ao público infantil, trabalha
com a fragilidade e a necessidade de proteção que toda criança tem. Com efeito,
a criança vê no adulto, mesmo que sem grandes poderes ou atabalhoado, aquele ou
aquela que pode lhe trazer ajuda, proteção, segurança, salvação. Essa é a
condição infantil. Quanto alguém se torna adulto e faz positivamente essa
transição psicológica, passa a não mais precisar de proteção. Ele sabe e pode
resolver as situações difíceis. E mais: é capaz de partir generosamente em
auxílio dos mais fragilizados e em risco.
Mas, e do ponto de vista existencial, podemos dizer
o mesmo? Tenho minhas dúvidas... Acho que toda pessoa humana, por mais adulta
que seja, também precisa sentir-se ajudada e protegida. Na resposta a este
sentimento, um papel fundamental é jogado pelas religiões. Elas, efetivamente,
suprem esta necessidade. E o fazem de formas variadas. Por isso existem
diferentes religiões.
Há religiões que, paradoxalmente, afirmam que o ser
humano faz sua própria salvação. Nelas, o fiel toma o lugar do próprio Deus e
cria a certeza de que, praticando este ou aquele tipo de ação, garante a sua
salvação. Em outras religiões, a salvação é alcançada através da prática
ritual. Quando o crente executa o rito de forma perfeita, os deuses se sentem
satisfeitos e garantem a salvação àqueles que os buscam. São religiões
ritualísticas.
O cristianismo, por sua vez, coloca a ação salvadora
totalmente nas mãos de Deus. É ele quem nos salva, seja no momento em que Deus-Pai
nos cria já com o desígnio de ternos em sua convivência, na ação redentora de Deus-Espírito
e pela presença, em nós e em todas as criaturas, de Deus-Espírito que nos
conduz de volta ao seio do Pai. Deus não exige nada em troca. A salvação é
graça. O único que Ele pede é que correspondamos a essa gratuidade da salvação
sendo graça para aqueles que estão ao nosso lado.
Quando perguntado sobre o número dos salvos, Jesus,
olhando ao redor e vendo o contexto de injustiça e indiferença que grassava em
Israel, responde: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos
tentarão entrar e não conseguirão”. E logo esclarece: a dificuldade em entrar
não é por não terem ouvido a pregação ou não dizerem-se adoradores de Deus. A
dificuldade de muitos em alcançar a salvação nasce do fato de não terem
praticado a justiça para com os empobrecidos e debilitados do povo.
E Jesus acrescenta:
haverá multidões vindas do norte, do sul, do leste e do oeste que, mesmo sem
nunca terem ouvido falar de Deus e sem professarem qualquer tipo de fé e sem
praticarem qualquer tipo de religião, mesmo assim entrarão pela porta estreita
pelo fato de terem praticado a justiça.
Os discípulos não contavam com a astúcia de Jesus
que continua a afirmar: Que me sigam os bons!
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