Gosto muito de futebol. Muito corri atrás da bola em minha
vida. Desde criança, junto com meus irmãos, primos e vizinhos. No pátio da
casa, na rua, na escola. Todos os lugares eram adequados para a bola. Na
adolescência e juventude, então, era quase um vício. Futebol de campo e de
salão. Não era um craque. Mas garantia a titularidade, às vezes na ponta
direita e às vezes de centroavante. Duas funções que no futebol atual não
existem mais. Valdomiro e Dario eram os craques a imitar. Lamento que os jovens
amantes de futebol não os tenham conhecido.
Há alguns anos, por problemas físicos, fui obrigado a deixar
os gramados e a quadra. Mesmo sem me identificar com nenhum – a cada campeonato
escolho um time para torcer naquele ano! – continuo apreciando o esporte bretão
que virou brasileiro e hoje é alemão.
Das muitas memórias da carreira amadora, uma me é especial.
É antiga... Há uns vinte e cinco anos, estava eu jogando futebol com um grupo
de amigos oriundos de vários países. Um pouco por habilidade e um pouco por
sorte, fiz um “gol de placa”. Bola cruzada na área e, de voleio, acertei um
petardo no ângulo. Golaço! Todos os jogadores africanos, tanto os de meu time
como os do time adversário, vieram comemorar comigo! Na hora não entendi. Mas
depois pensei: eu estava competindo; eles estavam jogando. Para mim o
importante era ganhar o jogo. Para eles, ver um gol bonito. São dois modos de
pensar que tem sua origem em duas culturas diferentes. A minha, a ocidental, do
individualismo, da competição, da vitória sobre o adversário. A deles, a
africana, da coletividade, da colaboração, de não deixar ninguém para trás.
São dois paradigmas dos quais me dei conta no futebol. Mas
eles estão presentes na sociedade. E em todos os seus âmbitos. A lógica do
capitalismo é “cada um por si” e “que vença o mais forte”. Os que caem, os que
ficam para trás, são vistos como competidores a menos. Dentro desta lógica,
quanto menos gente na competição, melhor.
O mundo da religião também pode se deixar guiar por esta
lógica. Para alguns religiosos, as pessoas que discordam de algum ponto da
moral ou da doutrina são taxadas de hereges a expulsar da Igreja. Os que
pecaram, devem ser impedidos da participação nos sacramentos. É a lógica da
exclusão pregada por elites sectárias que se pretendem donas de Deus e da
salvação.
Jesus pensa diferente. Para ele, o bom pastor é aquele que
deixa as noventa e nove ovelhas e vai em busca daquela que está perdida. Deus é
a mulher que varre toda a casa em busca da moedinha que se perdeu e, quando a
encontra, faz a festa com as amigas. O verdadeiro Pai é aquele que se alegra
mais com o filho mais novo que errou e voltou para casa do que com o filho mais
velho que sempre fez tudo certinho.
A vida em sociedade não é competição, mas jogo que constrói
o espaço para a convivência inclusiva de todas as pessoas. Religião não é
corrida aonde só os santos chegam aos céus, mas comunhão onde cada um cuida das
feridas dos outros para que todos possam comemoram juntos a vitória da vida.
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