Como diagnosticado argutamente no final dos anos sessenta
pelo pensador francês Guy Debord, vivemos numa “sociedade do espetáculo” onde,
o importante, não é ser, mas aparecer.
Nos anos oitenta, no auge do poder da comunicação televisiva,
o objetivo de toda a pessoa que ansiava por êxito era, como afirmava Andy
Warrol, alcançar os “quinze minutos de fama”. Com o surgimento dos reality shows, esse desejo parecia
tornar-se acessível, se não a todos, como profetizara o astro da arte pop, pelo
menos a todo aquele e aquela que estivesse disposto a expor a sua vida pessoal até
a mais recôndita intimidade ao voyeurismo
de um público que projeta na fama efêmera de pessoas alçadas do anonimato ao
estrelato, o seu desejo inconsciente de parecer aquilo que nunca alcançará ser.
Com a aceleração da comunicação e a necessidade,
impulsionada pelo capitalismo, de transformar o espetáculo em produto, os
iniciais “quinze minutos de fama” foram reduzidos a “cinco minutos” onde, no
dizer de Menito Ramos, cada um atropela o outro para alcançar os aplausos no
final. Mas, no capitalismo, onde time is
money, cinco minutos é muito tempo e, para alcançar a fama, as pessoas tem
que “se virar nos trinta” que decidem do seu êxito ou fracasso.
As novas tecnologias da comunicação e, nelas, as redes
sociais, reduziram ainda mais o tempo. Um bom viral, meme ou gif, tem a duração
de, no máximo, sete segundos dos quais pode resultar a piada engraçada que
consagra ou desgraça a vida dos personagens.
A religião, como parte desta cultura, também entrou na
lógica do espetáculo. Seguindo o padrão do televangelismo norte-americano, por
todo o mundo e em todos os espectros religiosos surgiram personalidades
religiosas midiáticas. E a religião, seguindo a lógica do capitalismo, se
tornou um grande espetáculo onde não importa a fé, mas a fama que se transforma
em grana justificada pela teologia da prosperidade ou pelo neopelagianismo.
Cultos, pregações, shows, curas, exorcismos, testemunhos... tudo passou a ser
tratado como um produto a ser vendido a um expectador ávido do extraordinário
como forma de superar a sua real insignificância quotidiana. A parresia se
transformou em capacidade de convencer incautos dos poderes do pregador sobre
Deus e a fé em ignorância que aceita o espetáculo como realidade concretizando
a profecia de Guy Debord de que “no mundo
realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso”.
A fé é capaz de
transplantar árvores de um lugar para outro. E também de remover montanhas. Já
o dizia Jesus. Hoje, na sociedade do espetáculo, uma falsa compreensão de fé
está removendo montanhas de dinheiro do bolso dos pobres para o bolso de
espertalhões que manipulam o desejo de fama e sucesso inoculado pelo
capitalismo.
É preciso voltar à fé de
Jesus que a descreve como a entrega total a Deus sem esperar em troca nenhuma
recompensa, nem material e nem moral. É preciso atuar de modo que, no final de
nosso percurso de vida, depois de termos feito tudo o que está a nosso alcance,
só nos caiba dizer diante de Deus: “Somos servos inúteis, fizemos apenas o que
devíamos fazer”. E aí nossa fé alcançará a sua plenitude.
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