Uma das coisas que mais incomoda os cidadãos contribuintes
são as obras inacabadas ou inúteis. É algo endêmico em nosso país. Tanto em
nível federal, como estadual e municipal. Usinas nucleares em construção há
mais de cinquenta anos; estradas que foram engolidas pela floresta ou pelos lamaçais
antes de serem concluídas; pontes em lugares onde não há rios; sistemas de
transporte urbano que não respondem às demandas da população; hospitais sem
equipamentos; escolas gigantescas onde há poucas crianças ou salas de aula sem
professores onde são muitos os que desejam estudar; estádios faraônicos onde
não há times de futebol; aeroportos onde sequer cidades existem... E a lista
poderia continuar ad infinitum.
Vendo tais situações, logo uma resposta nos vem à mente:
corrupção! É verdade. Em tudo isso há muito de corrupção. Obras que foram
iniciadas sem necessidade, apenas para satisfazer o apetite dos empresários
financiadores de campanha. Ou obras que se prolongam para justificar aditivos
orçamentários que perfazem uma soma maior que o plano original. E com o
conveniente de que os aditivos não precisam passar por licitação. Basta uma
decisão da Bic do governante de plantão para estufar as bolsas dos amigos e
amigas.
Mas há algo mais profundo e grave nisso tudo. A falta de
planejamento. Obras inacabadas são sintoma da falta de um projeto de nação.
Tudo é feito a esmo, sem preocupação com o que queremos para o amanhã de nossos
municípios, estados e nação. E como não há um sonho de futuro que nos una, cada
governo vende para a população um pseudoprojeto que promete começar tudo do
zero como se nada antes houvesse sido feito. E como, de fato, não há projeto de
governo, cada administrador faz o que lhe dá na cabeça ou aquilo que lhe
demandam seus financiadores ou o grupo econômico ou social que ao qual está
vinculado. E os recursos públicos se vão pelo ralo sem que perspectivas de
esperança se abram para o povo.
Tal modo de fazer chega ao seu paroxismo quando governantes
assumem com o confessado propósito de destruir tudo o que foi feito antes. “Antes
de mim o caos” parece ser o que anima pseudomitos a se apresentarem como
salvadores da nação. Desmantelar empresas exitosas, anular os projetos em
andamento, sucatear o serviço público governando de improviso conforme as
emoções do momento que traduzem pulsões de ódio e destruição. O resultado para
esse modus operandi é o de um país em
chamas. Tanto físicas como sociais. As físicas já estão ardendo na Amazônia. As
sociais, já ardem há muito tempo, tanto no campo como na cidade e nas
periferias. E, infelizmente, tendem a aumentar. E podem se tornar
incontroláveis.
Basta trocar os governantes? A mentalidade mágica na qual
muitos ainda vivem, diz que sim: “se não dá certo a gente tira!” Mas não é
assim. O que carecemos é de planejamento. E planejamento a longo prazo. O
próprio Jesus já dizia isso. Não se começa uma obra sem saber se se tem
recursos para ir até o fim. E não se começa uma disputa se não temos certeza de
ter mais forças que nosso adversário. Se não temos certeza disso, é melhor não
arriscar.
E tudo tem que estar sustentado por uma experiência de fé. É
ela que nos dá a coragem de empreender e ir até o fim. Tudo o mais é improviso.
E caminho para o desgaste e fracasso. Que tenhamos fé, coragem e cálculo para
desenhar e construir uma nação onde não haja mais ruínas de um futuro que nunca
existiu.
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