A história é bastante conhecida. Mas precisa ser lembrada,
pois é a história da justiça. Quando ele nasceu no pequeno vilarejo de Mvezo,
em 18 de julho de 1918, recebeu o nome de Nelson Rolihalahla Mandela. Seu pai,
analfabeto como a grande maioria da população sul-africana da época, era um
líder tribal tradicional. Dentro do sistema de governo imposto na região pelo
Império Britânico, seu papel era o de fazer a mediação entre o governo colonial
e a população nativa. Era uma mediação tensa, pois os brancos, que contavam com
aproximadamente 10% da população, dominavam 90% das terras e toda a produção
mineral, a grande riqueza do país.
O destino de Nelson era o de casar-se com uma jovem indicada
por seu pai e sucedê-lo na chefia tribal que, em comparação com a grande
maioria da população negra, tinha uma vida relativamente confortável. Mas
Nelson era um jovem atento à realidade de seu país e com seu olhar observador
percebeu que aquele modo de organizar a sociedade não era justo. Em busca de
melhores horizontes, mudou-se para a capital do país, ingressou na Universidade
– a única para negros na África do Sul -
onde conheceu outros jovens que, como ele, sonhavam com um país livre da
dominação colonial e do apartheid que,
naquele momento, deixava de ser uma realidade vivida para ser fundamentada em
leis.
Sua insurgência contra a discriminação dos negros levou-o a
ser expulso da Universidade. Depois de muita luta logrou formar-se advogado e
continuou, agora em outros parâmetros e com outros instrumentos, na batalha por
melhores condições de vida para seu povo. Sua obstinação custou-lhe caro. Teve
que fugir do país e, retornando, viver na clandestinidade até que, em 1963, foi
preso e condenado à prisão por traição à Pátria.
De 1964 a 1990, Nelson Mandela foi prisioneiro do Estado
sul-africano. Primeiro em Roden Island, depois em Pollsmor e, finalmente, em
Victor Verster. Mesmo sem perspectivas de recuperar a liberdade, nunca
renunciou a seu sonho de ver seu povo africano livre em seu próprio país.
Com o tempo, a luta da população africana organizada no
Congresso Nacional Africano e a pressão internacional, o regime do Apartheid tornou-se insustentável. No
final de 1999, o governo sul-africano legalizou os partidos políticos,
inclusive o Congresso Nacional Africano e, no dia 11 de fevereiro de 2000,
Nelson Mandela deixou a prisão. Em 1993, recebeu o Nobel da Paz. Comprometido
com a paz, foi candidato a Presidência do país. Eleito, conduziu a refundação
do país num processo de reconciliação nunca antes vivido em nenhum lugar do
mundo.
Lembrar a história de Nelson Mandela, é perguntar-se pelo
que entendemos por justiça. O sistema legal da África do Sul condenou-o à
prisão. Mas era um sistema legal baseado na justiça dos homens brancos
detentores da riqueza construída à custa da vida de milhões de negros
africanos. Foi essa justiça que condenou Mandela.
Mas houve uma justiça que absolveu Mandela. Foi a justiça da
humanidade que crê que toda pessoa tem direitos inalienáveis por ser uma pessoa
humana. Essa é a justiça de Deus. A justiça que não esmorece ante os juízes
poderosos que arrogantemente querem calar a voz da viúva que clama pelos seus
direitos. Essa é a justiça que Jesus nos aponta no Evangelho. Que tenhamos os
ouvidos atentos ao seu clamor que é o clamor de Deus.
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