Ser
feliz é o que todo ser humano deseja. Desde o nascimento até a morte. De manhã,
de tarde, de noite. No trabalho, no descanso e no lazer. Na vida pessoal,
familiar e social. No comer, no vestir, no namorar.
Da
busca pela felicidade nascem religiões, filosofias e ideologias. Ela faz nascer
sonhos, compromissos e desilusões. Dela brotam as entregas, as guerras e as
paixões, a indiferença, a santidade e a solidão.
Mas,
o que é felicidade? Difícil de definir. A começar pelas imagens de felicidade
com as quais somos bombardeados diariamente. Existe a felicidade da família
reunida ao redor da mesa saboreando um pote de margarina ou um iogurte. Ou a do
carro novo comprado em 60 vezes sem entrada. A felicidade do crediário das
Casas Bahia! A da cerveja feita de cereais não maltados que atrai todas as
mulheres da praia. E, a mais recente e tecnológica, a do smartphone de última geração que é tão rápido e tem tantas funções
que dispensam o seu feliz comprador de agir e pensar.
Mas
como a inteligência do celular, todas essas felicidades são artificiais,
imprevisíveis e efêmeras. Prova disso é o consumismo que rege a economia e a
cultura do nosso tempo. Ele ao mesmo tempo é gerado e se nutre do círculo
vicioso de compra-insatisfação-compra que só termina quando o dinheiro
disponível e as possibilidades de financiamento se esgotam. E da falta de
recursos para financiar a felicidade artificial surge a depressão e o suicídio,
dois males endêmicos de nossos dias.
Há
alternativa para isso? Sim. E ela é bem antiga. Já foi pregada há dois mil anos
por Jesus e retomada recentemente pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate Sobre a Santidade
no Mundo Atual. Trata-se das “bem aventuranças” ou, mais propriamente
traduzindo, das “felicidades”. Elas nada mais são do que uma receita para
alcançar a felicidade no quotidiano e o caminho da vida plena.
A
dificuldade para acolher e praticar tal receita reside tanto nos seus
ingredientes como na forma de preparação. Afinal, num mundo que apresenta a
riqueza como elemento fundamental para alcançar a felicidade, como acreditar
que felizes são os pobres? Num mundo que exalta a força e o poder, como dizer
que é a mansidão que faz as pessoas felizes? Numa cultura que apresenta como
herói aos senhores-de-guerra ou os que fazem “arminha”, como dizer que a
felicidade pertence aos pacíficos. Justiça, misericórdia, pureza de coração,
não fazem parte do receituário da felicidade de nosso tempo e de nossa cultura.
Mas o são da pregação de Jesus. E ele não era cego para a realidade de seu
tempo.
Sabendo
da dificuldade de sua proposta ser aceita, Jesus coloca como último sinal de
felicidade o fato de alguém ser perseguido, injuriado e caluniado por causa
dessa sua contracultural receita de como construir uma vida e um mundo feliz. Esse
é, como lembra o Papa Francisco, o caminho para a santidade. E ele não é
extraordinário, mas ordinário e pode ser realizado por qualquer pessoa.
Talvez
para pensarmos o nosso caminho rumo a uma vida feliz, a Igreja coloca juntas a
festa de todos os santos e a festa dos mortos. Diante da realidade inelutável da
finitude, cabe-nos perguntar: estou sendo feliz nesta vida que estou levando? A
margarina de tal marca, o carro com tantos itens de conforto, a cerveja com
este ou aquele sabor, o celular desta ou daquela marca, estão me dando a
felicidade ou é melhor buscá-la na proposta de Jesus?
Que
nesta festa de Todos os Santos e dos Finados, nos demos a possibilidade de
repensar os nossos sonhos e os respectivos caminhos para alcançar a felicidade
à qual todos e todas somos chamados.
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