Em sua recente viagem ao Japão, o Papa Francisco visitou
o Epicentro da Bomba Atômica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade de
Nagasaki no dia 9 de agosto de 1945. O fato não teria nada de extraordinário. Ir
a Hiroshima ou Nagasaki e oferecer flores pelos mortos em consequência das duas
únicas bombas atômicas até hoje utilizadas numa guerra, é um ato que quase
todos os Chefes de Estado em viagem ao Japão o fazem.
São raros, para não dizer
raríssimos, os chefes de Estado que, em viagem ao único país que sofreu um
bombardeio nuclear, não visitam uma das duas cidades para prestar sua homenagem
aos mortos e a todo o povo japonês. Não fazê-lo, é uma amostra de insensibilidade
e de espírito bélico. Não ir a Hiroshisma ou Nagasaki, para um Chefe de Estado,
é a afirmação de que os conflitos só podem ser resolvidos pela força das armas.
É ser contra a paz. É ser a favor da morte.
Mas, voltando ao Papa Francisco, em sua visita à
cidade de Nagasaki, ele foi além da simples visita protocolar. Ele não só
condenou o uso de armas nucleares. O Papa Francisco condenou a posse de armas
nucleares. Afinal, ninguém tem uma arma inutilmente. Tê-la, pelo simples fato
de tê-la sem a intenção de usá-la, não tem sentido. Se alguém tem uma arma, é
porque pensa em um dia usá-la. Ou seja, tem a intenção de matar. E isso é o
trágico na posse de armas. E não apenas da bomba atômica, mas de toda e qualquer
arma.
O Papa foi mais fundo na questão. Em seu discurso, afirmou
que o armamentismo nasce da desconfiança para com o outro. É o medo e a
desconfiança em relação às outras pessoas, aos outros grupos sociais ou nações
que faz nascer o desejo de possuir armas. Disse o Papa: “O nosso mundo vive a dicotomia perversa de querer
defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança
sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar
as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo.”
É o medo e a desconfiança que fazem
ver fantasmas de inimigos em todo o canto e toda esquina. E desse medo e dessa
desconfiança nasce o desejo de proteção que, para alguns, se sente satisfeito
com a presença de armas ou de pessoas poderosas e armadas que nos protejam dos
pretensos inimigos.
Restabelecer a amizade e a
confiança é o único caminho para construir uma sociedade de paz e convivência
harmoniosa entre todos.
Neste tempo de Advento, os cristãos celebram a chegada
do Príncipe da Paz. No Evangelho de Mateus, Jesus adverte que, em tempos
difíceis e de turbulência, é possível que apareçam muitos que se apresentem
como aqueles que vêm trazer a paz para a sociedade. É preciso estar atento e
saber discernir para não sermos levados por falsos messias. Estes, normalmente,
chegam com muito barulho e se apresentam como príncipes da guerra. O verdadeiro
Messias, o Príncipe da Paz, chega sem fazer alarde e se encarna na manjedoura
de Belém.
O critério de discernimento, para
Jesus, é claro. Ele o busca no profeta Isaías. Verdadeiro Messias, não é aquele
que se apresenta com o poder das armas. Pelo contrário, o verdadeiro Messias é
aquele capaz de transformar “espadas em arados e suas lanças em foices”. Na nova sociedade construída sobre a paz
da justiça, os homens “não pegarão em armas uns contra os outros e não mais
travarão combate”.
Que o
espírito do Advento nos conduza pelos caminhos da superação do medo, da desconfiança
e da violência. Que a amizade e a confiança sejam os condutores de nossos
passos no caminho da paz.
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