Aproximam-se as festas de Natal e
Ano Novo e, com elas, a tradicional sensação de que “o ano passou
muito rápido”. E de que, a cada ano, o tempo passa mais rápido…
Minha primeira reação é dizer que a sensação não é verdadeira.
Afinal, todos sabemos que todos os anos, salvo os bissextos, têm 365
dias, os meses, salvo fevereiro, têm trinta ou trinta e um dias, as
semanas têm sete dias, os dias têm vinte e quatro horas, as horas
têm sessenta minutos, e os minutos sessenta segundos…
Matematicamente, a duração dos anos e de suas porções é sempre a
mesma. É verdade. Mas não é toda a verdade.
Acontece que,
no tempo, há um fator fundamental. No tempo, há o fator humano. Não
é o tempo cósmico o que muda. A mudança, e ela é muito real, se
dá nas pessoas que vivemos no tempo. O problema não é o tempo. O
problema é a sensação humana do tempo. Nós humanos sentimos a
rapidez do tempo a partir daquilo que acontece ao nosso redor. Quanto
menores as mudanças, mais lento o tempo. Quanto mais rápidas as
mudanças, mais rápido o tempo.
E as últimas
décadas da humanidade foram marcadas por extremas mudanças. Em
todos os âmbitos da existência. Economia, política, cultura,
religião, ecologia, esportes, ciência, tecnologia… Mudanças
rápidas, bruscas, improváveis, imprevisíveis. Algumas nos
surpreendem por jogar-nos para frente, para um tempo que pensávamos
ainda distante. Outras mudanças nos dão a sensação de voltar a
viver num passado que pensávamos superado para sempre. Dois breves
exemplos. Quem, há vinte anos, poderia imaginar que a China seria
hoje a locomotiva econômica do mundo? Quem, há vinte anos, poderia
imaginar que o fascismo voltaria a ser uma força política viável
na sociedade pós moderna?
Nesse tempo de mudanças radicas,
nasce uma pergunta: de onde vêm as mudanças? Afinal, muitas vezes
temos a sensação de sermos ultrapassados em nossa capacidade,
pessoal e coletiva, de produzir ou administrar as mudanças que
ocorrem ao nosso redor. Gostaríamos que fosse desse ou daquele
jeito. Mas, na real, as coisas não acontecem como planejamos ou nos
atropelam e levam de roldão por caminhos que não podemos imaginar.
A maioria das
mudanças, é certo, tem suas causas na ação humana. É um desafio
para nós compreender como agem os humanos e também a forma como
podemos intervir para que as mudanças tomem os rumos e ritmos que
desejamos. Outras, no entanto, estão para além das nossas
capacidades. Para os que baseiam sua vida numa perspectiva de fé
cristã, cremos que há mudanças que vêm de Deus. Cremos que, para
além das capacidades e limites humanos, está a Graça de Deus, está
a Sua Divina Providência.
Não fosse
assim, como acreditar que o Messias poderia nascer na casa do
carpinteiro José de Nazaré e do ventre da camponesa Maria?
Impossível. Fora do cálculo humano. Maria ficou assustada e
duvidou. José pensou em fugir. Tanto ele como ela precisaram da
intervenção do Anjo para acreditar que Aquele que viria mudar a
história da humanidade sairia, não do Templo de Jerusalém nem dos
palácios dos governantes, mas que nasceria na periferia de Belém,
num abrigo de animais, entre pastores e gente do povo. E
foi isso que aconteceu e que celebramos no Natal. É Deus agindo no
tempo e surpreendendo a humanidade com sua temporalidade benfazeja
que nos atropela e assegura que o tempo de Deus não é o tempo dos
homens.
Que as festas do Natal nos ajudem
a compreender os mistérios do tempo de Deus e seu agir que nos
surpreende a cada dia.
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