- Melhor não ter nenhum plano, filho. Porque, se você tiver
um plano e não der certo, ficará frustrado...
O diálogo entre pai e filho marca a sequência final do filme
“Parasitas” dirigido por Boong Joo-hon. Um dramático e divertido filme que
retrata as contradições da sociedade coreana. De um lado, uma família de quatro
pessoas que mora numa mansão e goza de todas as benesses do progresso econômico
vivido por aquele país do oriente nas últimas décadas. Por outro lado, outra
família, também de quatro pessoas, que mora num subsolo imundo e tenta
sobreviver das sobras da riqueza desta mesma sociedade. As duas famílias se
encontram e, nos desencontros entre a extrema riqueza e a extrema pobreza,
humor e tragédia se instalam.
Enquanto a família rica vive o sem sentido da abundância sem
limite, na família pobre, o drama é pela sobrevivência do dia-a-dia. O pai,
conformado com a situação, tenta sobreviver convencido de que não há como mudar
as coisas. Para ele, não adianta sonhar. As coisas nunca vão mudar. O máximo
que se pode alcançar é aproveitar o pouco que sobra da mesa dos ricos. Não há
sonhos. Não há utopias. O filho, apesar dos constantes fracassos, continua a
sonhar, a construir planos para tirar a família, incluído o pai, de sua
situação de miséria.
O drama de “Parasitas”, tão bem narrado com a linguagem e a
estética oriental, é similar ao vivido em muitas partes do nosso mundo tão
desigual e onde somos convencidos a não sonhar. Vivemos o fim das grandes
narrativas, o fim das grandes utopias. A ideologia que alimenta a sociedade desigual
quer nos convencer de que a única satisfação possível é a de consumir. Para os
ricos, o consumo abundante e sem limite. Para os pobres, o consumo das sobras e
das imitações.
As frustrações do consumismo sem fim que levam ao desalento,
à desesperança e, no limite, à morte, clamam pela redescoberta da capacidade de
sonhar e de ter planos. E de não ter medo da frustração que o fracasso dos
planos pode gerar em nós. É preciso aprender a conviver com a frustração e
superá-las para continuar a sonhar, para continuar a ser humanos.
Para o cristão, isso faz parte do núcleo central da fé e se
inspira no próprio ser de Deus. Ele criou a humanidade em um plano de amor e de
convivência harmoniosa. Mas a humanidade lhe disse “não” e tomou outro caminho.
Adão e Eva, instigados pelo tentador, rejeitaram o sonho de Deus. Mas Deus não
desistiu de seu sonho para a humanidade, refez o seu plano para que o fim
almejado fosse alcançado.
E, quando tudo parecia perdido, Deus, mantendo a fidelidade
a Seu plano, se fez carne e veio habitar no meio de Deus. E o fez da forma mais
surpreendente: encarnou-se no ventre de uma humilde camponesa de Nazaré. Ela,
que se havia mantido fiel ao plano e ao sonho de Deus, é preparada para ser a
habitação de Deus no meio de nós.
Algo inacreditável para os que habitavam “a casa de cima” da
religião e da sociedade judaica. Mas crível sim, para Maria e por todos aqueles
e aquelas que, como ela, não se contentavam com as sobras e queriam algo mais:
queriam o encontro com Deus de forma plena e a realização da humanidade sem
limite.
Que a festa da Imaculada Conceição nos ajude a redescobrir
que Deus tem um plano para a humanidade. E que os eventuais fracassos não podem
nos tirar a capacidade de sonhar com a plena realização de todos os seres
humanos.
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O cinema é a arte sul-coreana merece ser assistido e valorizado. O filme em questão é muito bom. Retrata diferenças sociais que, se na Coreia há e são evidenciadas, em nosso país são maximizadas, elevadas à enesima potência. A Coreia surgiu do Reino de Joseon, havia escravidão e divisão entre nobre e plebeus, sociedade patriarcal e hierarquizada. Passou pelo domínio japonês, pelas disputas entre Rússia e USA no final do século XIX, viveu os horrores da segunda guerra, experimentou a divisão na guerra fria. Mas investe massivamente em escolas e universidades, valoriza professores e oportuniza aos alunos ensino integral. Lá, onde a Igreja Católica cresce, pois não é proselitista, há espaço para Filosofia , sociologia e artes. Por isso, com liberdade de expressão e incentivo às artes, há uma fantástica produção audio-visual, incluinfo cinema crítico e de grande qualidade. Admiro muito esse país budista e cristão, no qual a Igreja Católica é em sintonia com a população. Sugiro conhecer a cultura, literatura, história e arte da Coreia. Convido a valorizarem, no Bradil, como na Coreia, professores e educação. Parabéns pelo artigo.
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