segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

De onde menos se espera...


“Do jeito que está, não dá mais!” É uma frase que ouvimos com frequência. Especialmente quando se fala da grave crise social pela qual passa nosso país. “Mudança”, é uma palavra que catalisa a insatisfação e gera as mais variadas respostas.

Mas, quando falamos em mudança, é preciso sempre colocar duas perguntas. Se não queremos do jeito que está agora, para onde queremos ir? Mudar por mudar, pode levar a uma situação ainda pior do que a que aí está. Nos últimos anos, vimos inúmeras mudanças acontecerem no nosso país. Mas, todas elas, no lugar de melhorar a vida do povo, levaram a uma situação ainda mais precária. A pobreza aumentou, voltamos ao “mapa da fome”, o desemprego é a grande aflição das famílias, as condições de trabalho foram precarizadas, os recursos para a edução e saúde foram encolhidos, aposentar-se tornou-se um sonho praticamente irrealizável para as futuras gerações, a preocupação com a preservação do meio ambiente foi simplesmente desprezada, o Brasil abandonou todo e qualquer projeto de nação e tornou-se um satélite dos interesses norte-americanos. Queremos continuar caminhando nesta direção ou é necessário refazer o rumo? Tristemente, muitos se contentam com o discurso de mudança e não se perguntam para onde as mudanças que estão sendo feitas nos conduzirão a nós e às futuras gerações.

E aí vem a segunda pergunta: quem poderá realizar as mudanças que realmente interessam ao país? A história nos ensina que, aqueles e aquelas que sempre foram os privilegiados, a estes nunca interessam as verdadeiras mudanças. No máximo, eles podem fazer mudanças para buscar um lugar ainda mais exclusivo dentro da sociedade, enquanto as grandes maiorias continuarão em suas péssimas condições de vida.

A verdadeira mudança, a que interessa às maiorias, só poderá ser feita por aqueles e aquelas que sempre foram relegados às margens da sociedade. No Brasil, serão as mulheres, os negros, os jovens, os indígenas, os idosos, os sem trabalho, sem casa e sem teto, os que poderão fazer deslanchar a verdadeira mudança que o país precisa.

E isso não é apenas uma afirmação sociológica. De fato, a sociologia sempre afirmou que as verdadeiras transformações sociais nascem do desejo de mudança levantado por aqueles que vivem na periferia da sociedade, do sistema e dos impérios.

Mas, para o cristão, esta também é uma verdade de fé. Jesus iniciou sua missão em Israel, na periferia do Império Romano que, na época, dominava o mundo. E, em Israel, ele não escolheu como lugar para iniciar sua atividade a cidade de Jerusalém ou as cidades romanas de Séforis e Tiberíades. Foi em Cafarnaum, na beira do Mar da Galileia, na Terra de Zabulon e Naftali, na Galileia que era por todos desprezada por ser uma terra ocupada pelos pagãos. Foi lá, na periferia da periferia, que Jesus iniciou seu projeto de mudança de toda a sociedade.

E, para acompanhá-lo, não escolheu pessoas importantes. Chamou pescadores, homens que não tinham do que sobreviver a não ser aventurando-se no mar para buscar algo para dar de comer a seus filhos e filhas.

É nessa periferia social que Jesus busca aqueles e aqueles que, com ele, poderão fazer brotar a semente do Reino de Deus. Que o exemplo de Jesus nos inspire nas mudanças que a sociedade tanto precisa.
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