Eric
Hobsbawm, um dos grandes historiadores ingleses dos últimos tempos,
ao organizar a periodização da história do Ocidente, chamou o séc.
XX como o século “breve”. Para ele, o séc. XX iniciou
com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 e terminou
com a Queda do Muro de Berlim e a implosão da União Soviética em
1991.
Segundo
Hobsbawm,
o que caracterizou o breve século de apenas oito décadas foi a
polarização entre as duas megapotências do período: os Estados
Unidos da América e a União Soviética. Polarização que se
explicitava em disputas econômicas, políticas, militares,
científicas, culturais e esportivas. E alinhava aliadas de
um lado e de
outro
ao redor do mundo formando aquilo que se denominou
Guerra Fria.
O
desmantelamento da União Soviética foi celebrado no Ocidente, no
dizer de Francis Fukuyama,
como o Fim da História. Segundo
essa interpretação, teríamos entrado num mundo unipolar sob o
comando do Império Americano. Mas tal leitura logo mostrou-se
equivocada pois, ao redor do mundo, novas tensões nasceram. As
revoltas no Oriente Médio contra o padrão ocidental de vida fez com
Samuel P. Huntington falasse no “Choque de Civilizações”. Este
oporia radicalmente o mundo árabe e islâmico com o mundo europeu e
cristão. Aqui também percebeu-se que a realidade era mais complexa
que a reedição de uma releitura bipolar. Para além do “nós
contra eles” da Guerra Fria ou do Choque de Civilizações há uma
pluralidade de culturas, cosmovisões, identidades, interesses,
diferenças… que nos obrigam a pensar o mundo tendo em conta duas
realidades que estão sempre a tensionar. Por um lado, todos fazemos
parte da mesma humanidade e habitamos o mesmo sistema Terra. Por
outro, nesta identidade comum, somos muitos
e
diferentes e não há
como impor
um
único
modo de ver o mundo sobre a
totalidade dos seres humanos.
Em outras palavras, temos que superar os dualismos e a tentação da
unipolaridade e aprender a pensar a unidade na diversidade e a
diversidade na unidade.
Tarefa
difícil, mas não impossível. E ela pode ser iniciada bem perto de
nós. Até mesmo dentro de nossa família. Afinal, quem não tem em
sua família alguém que pensa diferente daquilo que eu penso? Nestes
tempos de polarização binária em que vivemos no Brasil, é uma
realidade desafiadora conviver com quem pensa diferente no campo da
política, por exemplo. Ou então, em temas religiosos, seja dentro
de sua comunidade de fé ou na relação com as outras.
Podemos
ampliar isso para a vizinhança, para a comunidade mais ampla, para o
país e para o mundo. Precisamos aprender ou reaprender a conviver
com o diferente. Sem este aprendizado, dificilmente teremos futuro.
Para
os cristãos, combinar universalidade com as particularidades, não é
uma opção. É uma obrigação. Afinal, o Deus em quem cremos e que
foi anunciado por Jesus, não veio para salvar apenas o povo de
Israel. Ele veio para salvar a todas as nações. E sem obrigar que
todos se tornassem judeus. Cada um foi salvo a partir de sua
identidade cultural, social, nacional, étnica, de gênero. E todos
foram salvos.
Como
bem explicita o apóstolo Paulo, em Jesus Cristo não existe o “ou
nós ou eles”. Em Jesus Cristo, sempre haverá “e nós e eles”.
Todos juntos, cada um na sua diferença, unidos na única salvação.
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