São Francisco e São Domingos são, sem sombra de dúvida, duas grandes figuras do mundo medieval. Com seu carisma e seu estilo de vida, deram origem a duas grandes tradições que até hoje continuam a inspirar cristãos e até pessoas de outras religiões ou que não professam religião alguma.
Não
há certeza histórica de que os dois tenham se encontrado em vida.
Certamente um ouviu falar do outro. E a tradição fez com que se
encontrassem. Na fonte franciscana chamada “Espelho da Perfeição”,
narra-se o que teria sido um possível encontro de Francisco e
Domingos. Estando os dois em Roma, em companhia do bispo de Óstia,
este sugeriu aos santos que indicassem membros das suas comunidades
para ocupar o cargo de bispos e cardeais. O futuro Papa Gregório IX,
que era sobrinho do Papa Inocêncio III e tinha estudado nas melhores
Universidades da época, pensava a vida de cristão em termos de
carreira eclesiástica. Sua lógica era a lógica do poder. Ocupar
cargos eclesiásticos e, através deles alcançar
a glória, era o seu ideal
e o de muitos
cristãos da
época.
Diante
da proposta do bispo, estabeleceu-se um verdadeiro duelo de humildade
entre os dois. Primeiro, para ver quem tomaria a palavra primeiro.
Cada um queria ceder a primeira resposta ao outro. Por fim, cedendo
às instâncias de Francisco,
Domingos
tomou a Palavra e disse:
“Senhor, com esta experiência, meus frades receberiam, por certo,
grande honra; mas, tanto quanto puder impedir, não permitirei que
eles recebem nem mesmo a aparência de uma dignidade”. Francisco,
por sua vez, falou: “Senhor, meus frades são chamados menores para
que não pretendam tornar-se maiores. Se,
pois, desejais que eles produzam frutos na Igreja de Deus,
conservai-os e mantendo-os
no estado de sua vocação e, mesmo que eles aspirem a alguma honra,
fazei-os voltar a sua antiga posição e não permitais que sejam
elevados a qualquer dignidade”.
Este
duelo pela humildade, tão
bem dramatizado por Francisco e Domingos,
tem sua origem na intuição fundamental do cristianismo: “Quem
quiser ser o maior, seja o último e o servidor de todos!” Jesus
começou sua missão dando o exemplo. Depois de nascer na periferia
de Belém e assumir em tudo a nossa humanidade, Ele fez-se discípulo
de João Batista. E, como qualquer outro discípulo, quis ser por ele
batizado. João, sabendo quem era Jesus, não queria batizá-lo. Mas
Jesus ordenou que João o batizasse para que todos compreendessem
que, diante de Deus, a humildade é o caminho da grandeza.
Em
seu duelo de humildade, São Francisco e São Domingo em nada
inovaram. Apenas viveram radicalmente o caminho cristão que não é
o de buscar as glórias. Nem as mundanas e nem as eclesiásticas.
A
história dos franciscanos, dominicanos e de toda a cristandade
mostra o quanto este modo de vida é difícil... Mas, graças a Deus,
temos hoje outro Francisco que nos lembra deste grande desafio de
todo cristão batizado, e
de modo especial dos seguidores de Francisco e Domingos, de
lavar os pés uns dos outros.
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