Dois lados nada brilhantes da sociedade brasileira a
serem considerados neste Dia Internacional da Mulher. De um lado, a realidade
laboral. Em todas as empresas, em todas as funções, desde as básicas até as
gerenciais, as mulheres, exercendo as mesmas funções que os homens, ganham, em
média, 30% a menos que os homens.
Nas profissões que exigem menos qualificação, a
diferença é menor. Nas profissões ditas “de ponta”, a diferença pode ultrapassar
os 100%. Ou seja, os homens ganham o dobro das mulheres, pelo simples fato de
serem homens... Segundo dados do IBGE, em 2019, a renda média dos homens
brasileiros foi de R$2.043,00. A renda média das mulheres, por sua vez, foi de
R$ 1.762,00. Uma diferença de R$ 489,00.
O que explica isso? Apenas uma razão: o machismo que
impregna a sociedade brasileira como um todo e se expressa no mundo do trabalho
onde uma mulher, mesmo tendo a mesma formação e desempenhando a mesma função,
recebe uma remuneração inferior à de um homem nas mesmas condições.
O outro dado, ainda mais estarrecedor do que o
primeiro, é o da violência contra a mulher. No Brasil, a cada quatro minutos,
uma mulher é vítima de violência física, sexual ou psicológica. Número que
inclui apenas os casos notificados em que as vítimas sobreviveram. E todos
sabemos que os casos não notificados são muito mais numerosos que os que chegam
aos registros policiais ou médicos. A cada duas horas, uma mulher é estuprada. No ano de 2017, no Brasil, 4.396 mulheres
foram assassinadas pelo simples fato de serem mulheres, ou seja, casos
tipificados como feminicídios.
As maiores vítimas de violência sexual são mulheres
com até 19 anos, ou seja, crianças e adolescentes. A violência física é
cometida principalmente contra mulheres entre 20 e 39 anos.
O mais aterrador destes dados – já de por si
assustadores – é que 70% dos atos violentos contra as mulheres acontecem dentro
do próprio ambiente familiar. Os principais abusadores de crianças e
adolescentes são os pais, avôs, tios, irmãos, primos... 36% das agressões
físicas contra as mulheres adultas são cometidos pelo cônjuge e 14% por ex-maridos
ou ex-companheiros. Apenas 9% das agressões contra as mulheres são cometidas
por desconhecidos.
Que dizer de tudo isso e de outros dados que
poderiam ser acrescentados? Primeiro, que é necessário, assim como foi naquele
março de 1911, quando 125 mulheres e 21 homens
em greve foram queimados dentro de uma fábrica nos Estados Unidos, continuar
lutando pela igualdade de gênero. Sonhamos com uma sociedade em que ninguém
seja julgado melhor ou pior pelo fato de ser homem ou ser mulher.
É o primeiro passo que, para ser
pleno, necessita de um segundo: o da transparência nas relações entre homens e
mulheres. Na nossa sociedade, as mulheres sofrem, em todos os âmbitos das relações,
a violência do machismo. Isso não pode ser negado, ocultado, disfarçado. Precisa
ser dito e superado. Mas para isso é preciso superar as masculinidades tóxicas
que fazem sofrer as mulheres e também fazem sofrer os homens. Como dizia Paulo
Freire, o opressor, ao mesmo tempo em que desumaniza o oprimido, se desumaniza
a si mesmo.
A igualdade de gênero buscada pelas
mulheres não é um perigo para os homens. Pelo contrário... É a ocasião para os
homens libertarmo-nos da condição de opressores que – consciente ou inconscientemente
– carregamos dentro de nós e possamos realizar a transfiguração do nosso ser
masculino para que, homens e mulheres, possamos conviver em harmoniosa
diferença e pluralidade.
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