Dia
seis de fevereiro. Ainda era verão nos quatro cantos do Brasil com sol de norte
a sul. Véspera de carnaval. Mas a cidade de São Paulo fica longe do litoral.
Aqui nada para. A vida segue normal. Afinal, tempo é dinheiro e como o tempo
não para, o dinheiro também não pode parar. Ainda mais em ano eleitoral. As
fichas tem que ser jogadas desde cedo para que os senhores da mesa tenham a
segurança de nada perder.
Hotel
Hyatt. Um dos mais sofisticados de São Paulo. O evento foi organizado pelo
Banco Pactual. Quem comanda o espetáculo é um dos seus fundadores que deixou a
função de executivo para dedicar-se à articulação política dos interesses do
segmento que domina a economia brasileira. Presente na plateia o reduzido clube
dos donos de bancos. Além deles, os operadores de mercado. Aqueles que, no dia
a dia, administram os interesses dos donos dos bancos.
É
um seleto grupo. O grupo dos ganhadores. Em um ano de profunda crise da
economia brasileira, o maior dos bancos privados, o Banco Itaú, viu sua
lucratividade crescer 12,3% e aproximar-se, em valor líquido, dos 25 milhões de
reais. Na soma dos quatro maiores bancos – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander – o aumento da lucratividade foi de 10,4%.
Mas
os banqueiros e seus lugares-tenente não estão aqui para discutir economia.
Para eles, o atual cenário econômico brasileiro está muito bom. Mais: nunca
esteve tão bom! Eles querem que continue assim. E para isso precisam garantir
seu candidato que já governa a economia brasileira há um bom tempo servindo aos
diversos governos de plantão. Seu nome é conhecido: Henrique Meirelles. O único
problema do Henrique Meirelles é que, ao mesmo tempo que produz os número
espetaculares para os banqueiros, produz também os mais horripilantes números
para os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. O pior deles, o do desemprego.
E todas as pesquisas de opinião mostram a sua inviabilidade. Não decola porque
o lastro de desgraças que sua política econômica amarrou aos pés dos trabalhadores
e trabalhadoras do Brasil é muito grande.
Que
fazer então? Coloca-se o bode na sala. Ele tem nome e consequências: Reforma da
Previdência. Para o desprazer dos engravatados que lotam o auditório do Hotel
Hyatt, a tática do bode não funcionou. A Reforma da Previdência foi adiada e os
brasileiros e brasileiras começaram a dar-se conta dos reais interesses que
estão por trás das jogadas legislativas desde o golpe
midiático-jurídico-parlamentar que afastou Dilma Roussef da Presidência.
Como
a tática do bode não funcionou, a solução é apelar para a seguinte chama o
rottweiler. Ovacionado em sua entrada triunfal e, na fala de quase uma hora,
interrompido por frequentes aplausos, falou o pré-candidato à Presidência Jair
Messias Bolsonaro. O que disse? Uma série de lugares comuns de seu repertório
fascista. O que mais chamou a atenção foi sua incapacidade de apresentar
qualquer proposta sensata sobre economia, saúde, educação e outros temas de
interesse nacional. Sua maior pérola foi quando perguntado sobre como resolver
o problema da segurança no Rio de Janeiro. A solução foi radiante: mandar
metralhar a favela da Rocinha. Simples assim... E todos aplaudiram!
A
pergunta é: o que leva homens inteligentes – se não fossem inteligentes não
ganhariam tanto dinheiro... – a aplaudir tal personagem? A resposta me parece
óbvia: eles precisam de um rottweiler para proteger seu território e assustar
àquelas e àquelas que, mesmo timidamente, começam a querer a volta daquele que,
durante oito anos, conduziu o maior processo de crescimento e redistribuição de
renda do Brasil. Metade da população brasileira quer a volta do sapo barbudo ao
governo. E a tendência é que aumente...
Será
que a tática do rotweiler vai funcionar? Não sei. Não se sabe... Por precaução,
o postiço que está onde nunca deveria ter estado, soltou sua matilha de
rottweilers sobre a cidade do Rio de Janeiro. Se um rottweiler assusta, imagina
milhares... Mas, não poderá acontecer com a tática do rottweiler o mesmo que
aconteceu com a do bode? Só o tempo dirá... Mas, para desprazer dos banqueiros,
no calor e na umidade típica dos trópicos, os sapos se multiplicam.
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