segunda-feira, 24 de junho de 2019

Pedro, Paulo e o martírio do cotidiano


A Basílica de Santa Maria del Popolo, em Roma, guarda duas das principais obras do pintor italiano Michelangelo Merisi, o Caravaggio: “O martírio de São Pedro” e “A conversão de São Paulo”.

Na primeira, o artista, seguindo a tradição, representa o martírio de São Pedro por crucificação. Segundo antigas tradições, Pedro foi condenado à morte no período da perseguição do Imperador Nero, por volta do ano 64 d.C., na cidade de Roma. O pescador galileu pediu a seus algozes para ser crucificado de cabeça para baixo. Desse modo, ele não se igualaria a seu Mestre, Jesus Cristo. Na tela, três soldados romanos, com os rostos obscurecidos, têm dificuldade em levantar o corpo do ancião que observa resignadamente a própria mão transpassada pelo cravo.

Na segunda tela, a conversão de Paulo é apresentada com detalhes que mesclam a narrativa bíblica com a tradição apócrifa. Estando Saulo a caminho de Damasco com ordens para capturar os membros da seita dos cristãos, foi tocado por uma luz que o fez cair por terra e o cegou. Diferentemente da narração bíblica, a tradição diz que Saulo “caiu do cavalo”. Na tela, Caravaggio retrata Saulo com as características de um soldado romano: armadura, espada e manto vermelho. Mas o cavalo não está aparelhado para a montaria e o combate. Paulo está no foco de luz. O cavalo, meio sombra, meio luz. E o servo de Paulo apenas emerge das trevas.

Vendo as duas telas, vem uma pergunta: por que não pintou Caravaggio, em paralelo ao martírio de Pedro, o martírio de Paulo? Segundo a tradição, Paulo também sofreu o martírio na perseguição de Nero. Ele teria sido decapitado em Roma. Segundo as normas romanas, os estrangeiros, como Pedro, podiam ser submetidos à pena mais degradante da crucificação. Já os cidadãos romanos – e, segundo a tradição, esse era o caso de Paulo – ao terem constatado o crime de traição à pátria, sofriam a decapitação, uma forma mais digna de morte segundo os padrões da época.

Sejam quais forem as motivações que levaram o pintor italiano a não apresentar, lado a lado, os dois martírios, os quadros nos lembram da forma da morte dos dois apóstolos símbolo dos primórdios cristãos. Tanto Pedro, o evangelizador dos judeus, como Paulo, o evangelizador dos gentios, sofreram a morte violenta por parte do poder dominante da época, o Império Romano.  A perseguição a ambos, no entanto, iniciara já na sua terra natal, na Palestina, e foi movida pelas mesmas autoridades do povo judeu que haviam crucificado Jesus. Os mesmos sacerdotes que entregaram Jesus a Herodes e a Pilatos, também fizeram de tudo para que Pedro e Paulo deixassem de anunciar a doutrina do amor e da misericórdia de Jesus. Como no caso de Jesus, fizeram isso não por serem maus. Antes pelo contrário. O Sumo Sacerdote Caifás e seu Sinédrio composto por 70 homens espertos nas leis religiosas judaicas, tanto na condenação de Jesus, como nas perseguições a Pedro e Paulo, apresentavam-se como convictos defensores de Deus e da religião.

É difícil, na distância do tempo e das culturas, fazer qualquer juízo sobre o caráter pessoal das autoridades religiosas judaicas. O fato é que, um olhar atento nos permite ver que, mais do que defender a seu povo e sua religião, o Sumo Sacerdote e o Sinédrio, além de defender seus interesses pessoais de donos da religião e do poder econômico, estavam fazendo o jogo do império estrangeiro na sua dinâmica de dominar o povo judeu.

E se a história tivesse sido diferente? Se Pedro e Paulo não tivessem sido perseguidos pelas autoridades de seu povo e tivessem tido um final de vida menos dramático? Mesmo parecendo a muitos iconoclasta, esta alternativa não é desconhecida da Bíblia. Pelo contrário, é apresentada positivamente pelo livro dos Atos dos Apóstolos. Segundo este livro, no capítulo 28, chegando prisioneiro em Roma, “Paulo morou dois anos numa casa alugada, vivendo às custas de seu próprio trabalho. Recebi a todos os que o procuravam, pregando o Reino de Deus. Com toda coragem e sem obstáculos, ele ensinava as coisas que se referiam ao Senhor Jesus Cristo”.

Um final menos heroico, mas não por isso menos desafiador. O apóstolo dos gentios, o grande Paulo, morando de aluguel e vivendo do trabalho de suas mãos, com a porta da casa sempre aberta para receber a todos os que o buscassem. Uma descrição muito distante do imaginário do poder que associamos aos apóstolos e seus sucessores. Um grande desafio para uma igreja que se quer em constante saída e juntos aos pobres da sociedade e da própria Igreja. Parafraseando o Papa Francisco, esta seria uma outra forma de martírio. Não o martírio da cruz ou o da decapitação, mas o martírio do cotidiano, de viver a fidelidade a Jesus Cristo não apenas em situações extraordinárias, mas no ordinário do dia-a-dia. Um martírio já vivido por pessoas que moram na porta ao lado, mas pouco notado por muitos que se dizem defensores de Deus e da religião. Um desafio para as autoridades religiosas de hoje. E um desafio para todos os que se dizem seguidores de Jesus de Nazaré, a exemplo de Pedro e de Paulo.

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domingo, 16 de junho de 2019

O que estão dizendo de mim por aí?

Quem sou eu? A velha pergunta que está na origem da religião, da filosofia, da psicologia, da antropologia, da história e, podemos dizer, de todas as ciências humanas, continua sendo posta. Todo ser, desde o momento em que se constitui como humano, se pergunta pela própria identidade. E, junto com esta pergunta inicial, surgem as outras questões básicas às quais a humanidade tenta responder desde os seus primórdios e que continuarão a ser o aguilhão do pensar até o fim dos tempos: quem sou, de onde vim e para onde vou? Em outras palavras, qual o sentido da minha existência?

Em meio às múltiplas e sempre inconclusas tentativas de resposta à questão tão crucial, dois caminhos se delineiam. O primeiro, presente em tradições egípcias e na filosofia grega, tornou-se famoso através da expressão escrita na entrada do Templo de Delphos: “Conhece-te a ti mesmo”. No sentido original e também no uso que, segundo Platão, Sócrates dela faz, a frase era um chamado à humildade. Algo assim como “não te aches mais do que aquilo que tu és”. Mas a frase tinha outro significado: não te preocupes com a opinião dos outros. Olha para dentro de ti mesmo e, no teu eu, encontrarás a tua verdadeira identidade.

É com este sentido que a afirmação foi retomada no início da modernidade. René Descartes, o pai da Filosofia Moderna Ocidental, através do aforismo “cogito, ergo sum” (penso, logo existo), estabeleceu que a única certeza que temos é a que nasce do nosso próprio pensamento. E que todas as outras coisas existem na medida em que podem ser pensadas pela minha subjetividade. Inclusive Deus. Sua existência só é real porque passível de ser pensada pelo humano.

A segunda tradição que tenta dar uma resposta à questão da identidade dos humanos, nasce da tradição judaico-cristã. Na tradição bíblica comum às duas tradições, o ser humano é aquilo que é na medida em que é dito por Deus. No relato da criação, é a voz de Deus que cria o ser humano e lhe dá nome constituindo-lhe uma identidade. E essa constituição da identidade continua no relacionamento que os humanos estabelecem com as outras criaturas e com as pessoas com quem são chamados a conviver. Diferentemente do pensamento cartesiano, a verdade não nasce de dentro de si mesmo, mas emerge da palavra do outro. É Deus, outro humano ou as outras criaturas que dizem a verdade sobre mim.

Esse modo de pensar era tão comum na cultura judaica que, segundo o Evangelho de Lucas, Jesus não tem nenhum receio em perguntar aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?” Diante das evasivas respostas relatadas pelos discípulos – “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou” – Jesus quer saber quem ele é para os discípulos e pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?” A resposta dada pelos discípulos é por nós conhecida: “Tu és o Ungido de Deus”.

A partir da resposta, Jesus tem sua identidade estabelecida. Mas a história não termina aí. Jesus explicita aos discípulos o que significa ser “ungido de Deus” em meio a um mundo de dor e opressão: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia.” E se essa é a identidade do Mestre, os discípulos têm, a partir dela, a sua identidade também definida. “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.”

Voltando à nossa questão da identidade, percebemos que, ao dizer a identidade dos outros, também estamos dizendo e construindo a nossa. Ou seja, nossa identidade é sempre relacional. Em outra palavra, eu sou eu e minhas relações. Se quero saber quem sou, preciso olhar para quem são as pessoas com as quais me relaciono e a qualidade das relações que com elas estabeleço.

Quando levada a sério, esta constatação nos recoloca, como no sentido original da expressão grega “conhece-te a ti mesmo”, numa postura de humildade. Nós não somos nada sem os outros! E, desde a experiência religiosa cristã, nós não somos nada sem o grande outro que é Deus. Por isso Paulo diante do orgulho dos judeus e gregos que, cada um a seu modo, se achavam o máximo de cultura e civilização, ele diz: para os que são batizados, “o que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo.” Diante de Deus, todos, na diversidade cultural, social ou de gênero, têm a mesma dignidade, pois todos encontramos a nossa identidade em Deus que nos criou e nos aceita tal qual somos.

Nós só nos conhecemos na medida em que somos conhecidos e nos deixamos re-conhecer pelos outros na constante dança dos encontros e relações.
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segunda-feira, 10 de junho de 2019

O Abraço Múltiplo de Deus


Deus é amor. Uma simples frase de três palavras. Simples assim. Tudo está dito. É o coração da teologia do evangelista João. Ele a repete incessantemente: Deus é amor. E diz mais: quem ama mora em Deus. Linda e aconchegante expressão: morar em Deus. Quem não o deseja? Todos sonham em um dia entrar e permanecer na casa de Deus. Quem sabe, agora mesmo. Pois o tempo que há de vir só tem sentido se já o saboreamos antecipadamente no agora. Ninguém deseja aquilo do qual sequer sentiu um pré-gosto. Só desejamos plenamente o que conhecemos antecipadamente. O aperitivo desperta a vontade de comer mais. Amar agora, é a condição para poder viver o amor plenamente em Deus.

Mas o que é o amor? Para o cristão, o amor é Jesus Cristo. É ele quem nos mostra antecipadamente o que viveremos plenamente em Deus. “Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos”, disse Jesus. E pelos inimigos também. Ele não morreu na cruz apenas por aqueles que com Ele fizeram o caminho da Galileia até Jerusalém. Morreu por todos. Inclusive por aqueles que o mataram na cruz. A todos perdoou. A todos amou.

Amor e perdão são duas coisas que caminham sempre juntas. Como disse Jesus falando a respeito da mulher que lhe ungiu os pés com lágrimas, “os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pois ela amou muito. E quem experimentou a alegria do perdão, é capaz de amar mais e mais. Não há amor sem perdão. E o perdão é a fonte de todo amor, porque Deus nos amou primeiro.

Amar é perdoar. Amar é dar. E, mais do que dar, amar é dar-se. É entregar-se totalmente ao outro. Quem quer o outro para si, não ama. Querer o outro para si não é amar, mas é possuir, é tomar o outro para que ele sirva aos meus interesses. Quando quero o outro para mim, não estou amando, mas dominando. E, dominar, é fazer-se senhor do outro. É fazer do outro um objeto de minhas posses. É coisificar o outro.

O amor só é possível quando há a capacidade de esvaziar-se, de anular-se a si mesmo para que o outro tome conta de mim. Foi o primeiro movimento de Deus para que o mundo passasse a existir. Deus, que é tudo, encolheu-se para que o mundo e a humanidade passassem a existir. Deus, ao criar do nada, pôs um limite ao seu todo. Agora ele tem outro a quem amar e por quem se entregar.
E essa entrega ele a realizou enviando seu Filho ao mundo na condição humana. Para tal, como diz Paulo na Carta aos Filipenses, Ele esvaziou-se da condição divina e assumiu a condição humana. E não qualquer condição humana. Deus assumiu a condição dos últimos dos humanos, a condição dos escravizados. Na identificação com os escravizados de ontem e com os escravizados de hoje, Deus mostrou o seu amor pela humanidade. Fazendo-se um de nós, mostrou-se como Filho de Deus e mostrou o caminho para Deus. É na identificação compassiva com os escravizados de hoje que encontramos o amor real de Deus.

A entrega de Deus à humanidade foi tão amorosa, tão livre, que o Filho não quis adonar-se da ação salvadora. Ele se retirou. Voltou para junto de Deus. E nesse vazio criado pelo Filho, Deus enviou seu Espírito para que a humanidade continuasse a caminhar com suas próprias pernas. O amor não domina. O amor liberta e permite que a pessoa continue, livremente, a ser ela mesma.

Quando alguém diz que ama, mas não permite que o outro seja ele mesmo, não está amando. Está dominando. Está estabelecendo uma relação de senhor e escravo, e não uma relação de amante e amado.

Na criação do Pai, na salvação do Filho e na santificação do Espírito, experimentamos, de formas variadas, os múltiplos apelos do abraço de Deus que nos ama. Um abraço que não prende. Pelo contrário, é um abraço de entrega. Deus se coloca em nossos braços e nos faz seus no seu amor acolhedor. Um abraço no qual Deus, longe de nos segurar presos a Si, nos impulsiona, nos dá força, nos impele para que sigamos nosso caminho e sejamos cada vez mais nós mesmos.

Um abraço que exige entrega. Que nos compromete a abraçar também. Um abraços que nos faz abrir os braços e deixar que os abraços dos escravizados de hoje nos tomem a nossa identidade e nos façam um com eles assim como Deus se fez e se faz um com nós. Um abraço que nos pede a coragem de retirar-nos do centro para que seja criado espaço para que o outro irrompa com sua própria 
identidade. Um abraço que nos transforme no que o outro é para que ele recupere a sua dignidade. Um abraço que não prenda o outro a nós, mas lhe dá força para que trilhe seus caminhos e sonhos.
Assim agindo, experimentaremos já no agora um pouco do futuro e pleno amor de Deus. Amor que se dá de formas múltiplas, variadas, nos muitos abraços de Deus e nos muitos abraços que damos e acolhemos no dia a dia.

Abraçando e amando, poderemos compreender um pouco do que significa afirmar que Deus é Trindade. Pois a Trindade de Deus não é um mistério lógico e nem ontológico. É um mistério de amor. Um mistério que só pode ser desvendado se nos permitirmos acolher os múltiplos abraços de Deus e nos permitirmos abraçar e deixarmo-nos cingir pelos braços que em nossa direção se estendem a cada dia.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

A DINAMITE DO ESPÍRITO

Não se assustem! Não tem nada a ver com explosão, com destruição, com morte. E tampouco com bombas e terrorismo... É apenas uma questão de etimologia, de origem das palavras. Nossa “dinamite” da Língua Portuguesa tem sua origem no grego dynamis. Na língua de Heródoto, dynamis significa força, energia, poder. A língua de Camões é abundante em palavras que dela derivam. Entre elas, temos dínamo, dinamizar, dinâmico, dinamismo, dinamômetro...

Na Bíblia, especificamente no Novo Testamento, essa palavra tem um uso muito preciso. Mesmo presente em outros escritos com o mesmo sentido, é na literatura lucana que ela mais aparece. No Evangelho de Lucas e nos Atos dos Apóstolos, dynamis indica a força de Deus que age em Jesus e pela qual ele cura as pessoas que dele se aproximam. Também indica a força com a qual ele anuncia a Boa Nova do Reino sem temer aos poderosos deste mundo. Dynamis que Jesus transmite aos seus discípulos e discípulas e que nelas atua para dar continuidade à sua missão. No caminho da comunidade de Jesus, essa dynamis ganhou um nome próprio: é o Espírito que, com o Pai e o Filho, formam a Trindade Divina.

Presente em cada criatura, a dynamis tem diversos modos de manifestar-se e atuar. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, muitas são as figuras utilizadas para dela falar: fogo, nuvem, vento, trovão, tempestade, terremoto, brisa suave, água, pomba... Em todas elas, algo em comum: é um agir incontrolável, que não pode ser gerado, nem detido e muito menos direcionado pelos humanos. A dynamis de Deus age onde quer, quando quer e como quer.

Mas há um lugar especial para a sua manifestação. Um lugar muito comum, que muitas vezes nos passa despercebido. É a palavra humana. É pela dynamis divina que os profetas do Antigo Testamento sentiam-se impelidos a falar. E, às vezes, a dizer o que não queriam e não gostariam de dizer. Maria, Isabel, Zacarias, João Batista e o próprio Jesus falam pela dynamis do Espírito. Do mesmo modo os discípulos e discípulas de Jesus o fazem. Naquele tempo e ainda hoje.

É deles que o Papa Francisco, na audiência de 30 de maio próximo passado, diz que “quando o Espírito visita a palavra humana, esta torna-se dinâmica como ‘dinamite’”. A figura é forte, e por isso chamou a atenção. O detalhe é que muita gente esqueceu a continuidade da frase do Papa. Por que ela é importante? Porque nos fala das consequências desta explosão do Espírito na palavra humana. Diz o Sumo Pontífice: a explosão do Espírito na Palavra humana “é capaz de inflamar os corações e fazer saltar esquemas, resistências, muros de divisão, abrindo caminhos novos e alargando as fronteiras do Povo de Deus.”

E é isso o mais importante: a dynamis de Deus é força de novidade, de ruptura e superação de velhos esquemas e de criação do novo. Em tempos em que parte da humanidade e dos cristãos teima em aferrar-se e fechar-se dentro de muros encarquilhados e grades enferrujadas – sejam eles materiais, mentais ou espirituais – que lhes dão uma falsa sensação de proteção e segurança, o Espírito de Deus irrompe com sua força incapaz de ser contida e convida para a novidade da construção de um mundo aberto, sem muros, sem grades, sem armas, sem condenações e sem exclusões. Um mundo em que todas as pessoas possam encontrar-se, vindas do norte, do sul, do leste e do oeste e possam conviver na pluridiversidade em que cada um entende o outro a partir de sua língua, de sua cultura, de sua religião. É o sonho desenhado por Lucas nos Atos dos Apóstolos quando narra a irrupção do Espírito sobre a multidão multinacional, pluricultural e ecumênica reunida em Jerusalém.

Que a Festa de Pentecostes nos dinamize nesta busca de deixarmo-nos habitar pela força de Deus que nos impele para o novo.