Em meio à crise econômica mundial e nacional, alguns números
chamam a atenção. Segundo a OXFAM, uma das mais sérias entidades internacionais
de combate à pobreza e à desigualdade, em meio à essa crise, a distância entre
os mais ricos e os mais pobres vem aumentando em um ritmo nunca visto antes.
Atualmente, as 36 pessoas mais ricas do mundo acumulam a mesma riqueza que a
metade mais pobre da humanidade. Ou seja, 36 pessoas detêm o equivalente a 3,6
bilhões de outros seres humanos. Nos anos de 2017 e 2018, a cada dois dias,
surgiu mais um bilionário no mundo. Essa distância entre ricos e pobres têm uma
de suas fontes na desigual tributação que os dois extremos sofrem.
No Brasil, sempre segundo dados da OXFAM, essa situação é
ainda mais grave. Os seis brasileiros mais ricos – todos homens – detém a mesma
riqueza que a soma dos 100 milhões de brasileiros mais pobres! A desigualdade
no Brasil é seis vezes superior à média mundial. Em termos de desigualdade
social, assim como no futebol, somos campeões do mundo...
É justo isso? Dentro da lógica capitalista, sim. Riqueza
produz riqueza e “quem pode mais, chora menos”. É a lógica do mercado onde o
mais forte engole o mais fraco. Dentro da lógica cristã, não. Pois, “não se faz distinção entre grego e
judeu, circunciso
e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos.”
E mais: a riqueza que uns poucos privilegiados acumulam, é o que falta na mesa
do pobre. E pior: é o que foi tirado da mesa do pobre. Com efeito, os bens
disponíveis são limitados. E, para que um acumule o que não precisa, é preciso
tirar do outro o que lhe é necessário. Como diz o profeta Jeremias, “como a perdiz que choca os ovos que não pôs, assim é
aquele que ajunta riquezas por meios injustos.”
Diante desse fato, pergunta o Livro do
Eclesiástico: que adianta ao rico acumular tantas riquezas se, no final de uns
poucos anos, morre e deixa tudo para outro que nada fez? Jesus é mais enfático:
o desejo de acumular bens, a ganância de ter sempre mais, além de provocar a
desgraça dos outros, leva à desgraça daquele que dedica sua vida a acumular. O
rico, além de fazer a infelicidade dos outros, cava, ao mesmo tempo, o sepulcro
de sua própria desgraça. A ganância só faz sofrer. Tanto ao que acumula, como
ao que é espoliado. Este sofre injustamente. O ganancioso, sofre de sua própria
maldade.
Diante do rico afogado em sua riqueza
acumulada que faz o pobre sofrer, cabe uma atitude irônica como a de Jesus. Pobres
ricos que só tem as riquezas nas quais locupletarem-se! E uma afirmação
taxativa: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens”, pois pode
ser que, nesta mesma noite, a morte bata à sua porta e, então, quem ficará com
os bens acumulados?
Se os 36 homens mais ricos do mundo ou os
seis brasileiros que detêm mais riqueza que os 100 milhões de compatriotas mais
pobres se colocassem diante dessa possibilidade de que hoje mesmo podem ter a
sua vida ceifada, talvez se dessem conta que sua riqueza nada mais é do que
vaidade de vaidades. E uma triste vaidade que faz os outros sofrerem e, por
isso, vaidade culpável diante de Deus e diante dos homens.
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